Finalmente chegou o dia! Ou melhor, a noite, porque o dia mesmo é amanhã! Começa mais uma grande viagem para Porto Alegre!
Vamos eu e meu filho e parceirão de viagens Marcelo com a Blackie (BMW F800R). Segunda viagem dela daqui a POA, segunda do Marcelo (se bem que da outra vez ele só voltou) e quarta minha. Nenhum de nós é novato no trecho mas a emoção de uma grande viagem de moto é sempre grande!
Não sabemos ainda os caminhos que vamos passar, não decidimos o trajeto todo até Porto Alegre. Só está certo mesmo o primeiro dia - Vitória, Muriaé, Juiz de Fora, e se o tempo permitir, pernoite em Caxambu. Um trecho de BR-101 no ES, depois um tanto de estradinhas várias, depois as boas BR-116 e BR-267.
Esse trajeto me atraiu por vários motivos. Um, evita passar pelo Rio de Janeiro. Não tenho paranóia de insegurança, morei lá e conheço os caminhos. Mas sempre tem trânsito, motoristas estressados fazendo loucuras e tudo isso aumenta o risco e diminui o prazer. Dois, quando passei nesse trecho foi no sentido inverso e com chuva constante, então não deu para curtir nem a estrada e menos ainda a paisagem. Três, Caxambu tem dúzias de opções de hotel com preços praticáveis. E quatro, para fechar, essa parada nos deixa várias opções de caminho para o dia seguinte.
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
4a Viagem Vitória a Porto Alegre - Pré história da viagem
Cada viagem tem sua história. E sua pré-história também. Aquele tempo que a antecede, onde a ansiedade e o medo se misturam com a expectativa e o planejamento.
Estou a poucos dias de mais uma grande viagem de moto a Porto Alegre. Será a 4a viagem com Vitória como origem e Porto Alegre como destino. Isso a torna igual às outras? Não mesmo.
Dessa vez meu filho Marcelo vai junto. Mesmo isso não é novidade, pois ele já voltou comigo dois anos atrás, Bom, dessa vez vai e volta. E a novidade mesmo é que vamos compartilhar a pilotagem - a cada parada troca o piloto. Então essa viagem já é uma experiência única só por isso.
Outra coisa que torna essa viagem diferente é que ainda não planejei nada do roteiro. Eu normalmente fico "namorando" estradas antes da viagem acontecer, escolhendo o caminho no mapa, calculando tempos e distâncias. Mas desta vez, a três ou quatro dias da viagem eu ainda não sei por quais estradas vamos passar. Vamos direto, por grandes estradas, ou vamos por dentro, passando por estradinhas pitorescas? Realmente não sei. Só sei que temos quatro dias para chegar lá sem stress. E isso é tempo mais que suficiente, na verdade indo direto dá para fazer em três.
Que tal pegar aquela estrada passando por Nova Friburgo, Teresópolis e Miguel Pereira? É uma estrada bem legal de pilotar depois do trevo de Itaocara. Bom asfalto, boas curvas, paisagens interessantes, clima de serra. Mas tem também a BR393, saindo ali por Apiacá e passando por Itaperuna, Pádua, Além Paraíba e Vassouras. Essa estrada é mais curta, bem mais quente e menos atrativa visualmente. Mas não chega a ser desagradável. Tem a velha 101 como opção, seja passando pelo Rio de Janeiro ou atalhando pelo Arco Metropolitano. Rápida e segura, é a melhor opção se estiver chovendo. No trecho carioca tá toda duplicada, o que torna o trajeto mais rápido, confortável e seguro. Só que já é mais que conhecida, perdi a conta de quantas vezes já passei nela de carro ou moto. E pra fechar a lista, ainda teria a duplinha BR-116 e 267 lá em MG, pegando em Muriaé e descendo até a Fernão Dias. Eu e Marcelo fizemos essa no sentido contrário no retorno juntos. Só que debaixo de muita chuva, o que não é o melhor para ter uma boa lembrança. Mas certamente não era uma estrada ruim. Tranquila, certamente.
No trecho seguinte, eu penso em pegar a Estrada dos Romeiros, de São Paulo a Itu passando por Santana do Parnaíba. Essa é novidade, nunca peguei. Vai margeando o Rio Tietê, e dizem ter montes de curvas legais. É passeio da motoqueirada paulista. Mais abaixo tem as opções já conhecidas - estrada da Cabeça da Anta, Serra da Macaca ou Rastro da Serpente. A Rastro eu já fiz duas vezes. A Macaca já fiz descendo. A Cabeça de Anta só subi, mas foi exatamente na vagem com Marcelo. Bom, podemos pegar uma dessas na ida e outra na volta. Não sei quais.
De Curitiba abaixo tem a descida da Serra da Graciosa, mas fiquei meio cabreiro depois que nas duas últimas vezes peguei chuva, e na última, chuva pesada. Foi bem desagradável e perigoso. Tem a estrada que desce para Joinville, duplicadona mas cheia de radares. Tem o trajeto por São Bento do Sul e a descida da Serra de Dona Francisca, chegando em Joinville também. E tem ainda a possibilidade de descer de Curitiba pela BR-116 direto. Ou descer ela até um ponto que pegue a BR-282 descendo para o litoral. Não sei se essa opção vale a pena. Certamente é bem estúpido entrar de Lages para o litoral, vai aumentar para caramba o caminho sem benefício algum.
Uma opção seria descer pela Dona Francisca e subir a BR-282 até Lages, para daí ir até Porto Alegre pela serra. A descida da BR-116 eu nunca fiz. Já subi ela duas ou três vezes, mas nunca desci. Acho ela uma estrada bem mais legal que ir pelo litoral. Mas no litoral tenho opções de parada em Tijucas, Garopaba, Jaguaruna e Araranguá, visitando amigos.
Muitas dúvidas. Preciso abrir um mapa numa mesa e ir escolhendo tudo isso com meu co-piloto Marcelo.
Estou a poucos dias de mais uma grande viagem de moto a Porto Alegre. Será a 4a viagem com Vitória como origem e Porto Alegre como destino. Isso a torna igual às outras? Não mesmo.
Dessa vez meu filho Marcelo vai junto. Mesmo isso não é novidade, pois ele já voltou comigo dois anos atrás, Bom, dessa vez vai e volta. E a novidade mesmo é que vamos compartilhar a pilotagem - a cada parada troca o piloto. Então essa viagem já é uma experiência única só por isso.
Outra coisa que torna essa viagem diferente é que ainda não planejei nada do roteiro. Eu normalmente fico "namorando" estradas antes da viagem acontecer, escolhendo o caminho no mapa, calculando tempos e distâncias. Mas desta vez, a três ou quatro dias da viagem eu ainda não sei por quais estradas vamos passar. Vamos direto, por grandes estradas, ou vamos por dentro, passando por estradinhas pitorescas? Realmente não sei. Só sei que temos quatro dias para chegar lá sem stress. E isso é tempo mais que suficiente, na verdade indo direto dá para fazer em três.
Que tal pegar aquela estrada passando por Nova Friburgo, Teresópolis e Miguel Pereira? É uma estrada bem legal de pilotar depois do trevo de Itaocara. Bom asfalto, boas curvas, paisagens interessantes, clima de serra. Mas tem também a BR393, saindo ali por Apiacá e passando por Itaperuna, Pádua, Além Paraíba e Vassouras. Essa estrada é mais curta, bem mais quente e menos atrativa visualmente. Mas não chega a ser desagradável. Tem a velha 101 como opção, seja passando pelo Rio de Janeiro ou atalhando pelo Arco Metropolitano. Rápida e segura, é a melhor opção se estiver chovendo. No trecho carioca tá toda duplicada, o que torna o trajeto mais rápido, confortável e seguro. Só que já é mais que conhecida, perdi a conta de quantas vezes já passei nela de carro ou moto. E pra fechar a lista, ainda teria a duplinha BR-116 e 267 lá em MG, pegando em Muriaé e descendo até a Fernão Dias. Eu e Marcelo fizemos essa no sentido contrário no retorno juntos. Só que debaixo de muita chuva, o que não é o melhor para ter uma boa lembrança. Mas certamente não era uma estrada ruim. Tranquila, certamente.
No trecho seguinte, eu penso em pegar a Estrada dos Romeiros, de São Paulo a Itu passando por Santana do Parnaíba. Essa é novidade, nunca peguei. Vai margeando o Rio Tietê, e dizem ter montes de curvas legais. É passeio da motoqueirada paulista. Mais abaixo tem as opções já conhecidas - estrada da Cabeça da Anta, Serra da Macaca ou Rastro da Serpente. A Rastro eu já fiz duas vezes. A Macaca já fiz descendo. A Cabeça de Anta só subi, mas foi exatamente na vagem com Marcelo. Bom, podemos pegar uma dessas na ida e outra na volta. Não sei quais.
De Curitiba abaixo tem a descida da Serra da Graciosa, mas fiquei meio cabreiro depois que nas duas últimas vezes peguei chuva, e na última, chuva pesada. Foi bem desagradável e perigoso. Tem a estrada que desce para Joinville, duplicadona mas cheia de radares. Tem o trajeto por São Bento do Sul e a descida da Serra de Dona Francisca, chegando em Joinville também. E tem ainda a possibilidade de descer de Curitiba pela BR-116 direto. Ou descer ela até um ponto que pegue a BR-282 descendo para o litoral. Não sei se essa opção vale a pena. Certamente é bem estúpido entrar de Lages para o litoral, vai aumentar para caramba o caminho sem benefício algum.
Uma opção seria descer pela Dona Francisca e subir a BR-282 até Lages, para daí ir até Porto Alegre pela serra. A descida da BR-116 eu nunca fiz. Já subi ela duas ou três vezes, mas nunca desci. Acho ela uma estrada bem mais legal que ir pelo litoral. Mas no litoral tenho opções de parada em Tijucas, Garopaba, Jaguaruna e Araranguá, visitando amigos.
Muitas dúvidas. Preciso abrir um mapa numa mesa e ir escolhendo tudo isso com meu co-piloto Marcelo.
segunda-feira, 6 de novembro de 2017
Perdido no interior do Rio de Janeiro
Essa é da minha segunda ida de Vitória a Porto Alegre de moto, no final de dezembro de 2015.
O roteiro foi planejado com antecedência no Google Maps. A viagem levaria pelo menos uns quatro dias, e eu queria cruzar o país por estradas diferentes das óbvias, passando por estradas bonitas e cheias de curvas.
No primeiro dia eu ia descer até perto de Campos dos Goytacazes e dali entrar para o interior do estado do Rio de Janeiro. A ideia era percorrer a BR-492 até Teresópolis, dali pegar a muito bem recomendada “Rota Romântica” (BR-495) até Petrópolis, e depois seguir pela RJ-117 até Miguel Pereira ou outra cidade próxima, onde o entardecer me encontrasse.
Planejei sair da BR-101 um pouco antes das encrencas do trecho urbano de Campos dos Goytacazes, numa localidade que no mapa se chamava Conselheiro Josino. Havia uma opção de entrar na BR-492 ainda antes, em Morro do Coco, mas por algum motivo o Google Maps não roteirizava por esse trecho inicial. E tinha ainda a opção ir até Campos para ali pegar a estrada para São Fidélis, mas esse era um trajeto bem mais longo e incluía passar por todo o trecho urbano da cidade de Campos, sempre muito engarrafado, lento e quente.
Saí de casa bem cedo e atravessei todo o sul do ES todo pela velha conhecida BR-101. O trevo de Conselheiro Josino era um lugarzinho tão pequeno que se bobeasse eu passava reto sem nem perceber que ali tinha um trevo! Mas estava ligado e entrei à direita para a estradinha com uma sensação de que ali começava a verdadeira viagem.
Com aquela emoção das coisas novas e desconhecidas eu entrei na RJ-228, estradinha pequena na qual eu deveria seguir até Vila Nova de Campos. Tudo bem tranquilo, absolutamente ninguém na estrada e um solzão de verão aquecendo a roupa de couro.
Vila Nova de Campos e era um lugar tão pequeno quanto Conselheiro Josino, senão menor. Não encontrei nenhuma placa indicativa da estrada que deveria pegar, mas encontrei uma bifurcação na estrada com um posto de gasolina bem precário mais ou menos na quilometragem indicada. Seria ali? Devia ser.
Era a primeira entrada à esquerda, como indicava no mapa. Mas olhei a estrada e era um desastre, não dava sequer para saber se era de terra ou asfalto de tão ruim que estava. Parei no posto quase abandonado e perguntei a um cara que estava ali:
– Essa estrada vai para São Fidélis?
São Fidélis era a cidade maiorzinha no trecho adiante, achei que era boa referência. O cara no posto comentou:
- Ih, essa estrada tá muito ruim. Tem uma melhor logo à frente, passando Murundu.
Uhm, se era melhor que aquele desastre era uma opção interessante.
- Essa outra estrada tá boa?
- Ah, bem melhor que essa aqui. É toda asfaltada, nova!
Na verdade eu ainda estava em dúvida se aquela estrada que começava no posto de gasolina era mesmo a estrada que eu deveria pegar pelo roteiro. Ou será que era essa outra que o carinha falou? Pensei em checar no Maps com o celular, mas quem disse que tinha sinal de celular naquele finzinho de mundo? Nadinha, nem Vivo nem Tim, as duas operadoras que eu utilizava. Pensei por um minuto na coisa toda e resolvi seguir a indicação do sujeito. Fui adiante até Murundu, pensando que lá deveria ter alguma placa ou indicação dessa estrada para São Fidélis.
A tal da Murundu era outra comunidadezinha minúscula na RJ-228, apenas alguns quilômetros adiante de Vila Nova de Campos. Não demorei a chegar nela. Mas cadê a entrada da tal da estrada nova e boa? Passei devagar pela comunidade e não encontrei nada. Como o sujeito disse que era para “entrar em Murundu”, não quis seguir muito adiante pela estrada para ver se a entrada estava mais à frente. Voltei e entrei em Murundu, seguindo bem literalmente a indicação. Passei por umas poucas ruelas sem encontrar casa aberta ou pessoa pela rua e cheguei numa estrada. Entrei à esquerda achando que era ali, mas a estrada logo se transformou numa estrada de terra. Não poderia ser essa, pois o cara falou que a estrada era toda asfaltada! Parei, tirei uma foto, dei meia volta e voltei para Murundu.
Me embrenhei de novo nas ruazinhas até encontrar alguém. Perguntei como pegava a estrada para São Fidélis. A pessoa não sabia o caminho, mas disse que se eu seguisse à frente chegaria em Cardoso Moreira, que era mais perto de São Fidélis. Fui.
A estradinha estava longe de estar boa, e certamente não tinha sido recentemente asfaltada. Estava cheia de buracos. Mas segui por ela mesmo assim. Em torno, paisagens rurais de planície do norte do estado do Rio de Janeiro. Nada espetacular, essa região não é feia mas não chega a ser particularmente bela.
Eu não fazia nem ideia de onde estava realmente, mas o interessante é que isso não incomodava. Tinha a sensação de estar perdido mas ao mesmo tempo não tinha nenhum medo. Era ainda de manhã, eu tinha certeza de que em algum lugar eu chegaria e de lá daria um jeito de ir adiante. Não tinha pressa de chegar e nem reserva de hotel feita em cidade alguma do caminho. Era dono do meu destino, apesar de nem saber onde estava. Fui adiante pela estradinha curtindo a motocada e as paisagens.
Cheguei algum tempo depois na tal da Cardoso Moreira e me impressionei. Para uma cidade que nem aparecia nos meus mapas ela era bem estruturada e tinha até alguns prédios. Bem maior que as comunidadezinhas anteriores. Parei novamente para perguntar pelo caminho para São Fidélis, e a pessoa me perguntou:
- Você vai para São Fidélis mesmo?
- Na verdade vou para Nova Friburgo.
Se fosse ser preciso eu deveria dizer que estava indo para Porto Alegre, mas Nova Friburgo ficava no caminho que eu queria passar nesse dia. Era a “grande cidade” seguinte no meu roteiro. Vai que o sujeito nem soubesse onde era Porto Alegre?
Ele respondeu:
- Ah, mas aí não precisa passar em Fidélis! Segue adiante até o trevo e pega a estrada para Pureza. De lá você chega na estrada para Friburgo mais fácil.
Ri sozinho dentro do capacete com o nome do lugar - “Pureza”. Nunca tinha ouvido falar e nunca tinha visto no mapa. Já bem dentro do espírito “deixa a estrada me levar” eu nem pensei em pegar o celular para ver onde ficava ou como chegava lá. Só segui a indicação.
A estrada que saía de Cardoso Moreira (BR-356) estava em ótimo estado. Para onde será que ia? Fiquei curioso mas não a ponto de parar e olhar num mapa. Fui seguindo a indicação até chegar em um trevo. Seria ali a estrada para Pureza? A falha em achar a BR-492 em Murundu me fez duvidar. O sujeito tinha falado que era perto e aquela era a primeira entrada à esquerda. Mas de novo a estrada era de terra!
Parei para pensar no que fazer e tirar mais umas fotos e vi que a uns 100 metros vinha pela estrada um vendedor de picolé empurrando seu carrinho. Esperei ele chegar e perguntei pela estrada para Pureza. Era aquela mesmo? Era. Mas era de terra?
- Ah, não, seu moço. Logo adiante tem asfalto. É só esse pedacim no começo que é de terra!
Segui pela estradinha, que depois do trechinho de terra estava em boas condições, até a cidade de Pureza. Fui seguindo placas para Nova Friburgo até que cheguei numa cidade chamada Itaocara. São Fidélis já estava bem para trás e o caminho para Nova Friburgo já não era mais a BR-492 dos meus planos. Eu estava mais além dela. Minha preocupação era como faria para chegar nela de novo!
Tal como aconteceu em Cardoso Moreira me surpreendi com o tamanho de Itaocara. Era uma cidade bem maior que eu esperava. Maior que Cardoso Moreira, inclusive. E grande o suficiente para eu precisar de indicação para sair dela no caminho certo. Parei ao lado de uma pracinha e estudei o caminho a seguir. Eu deveria pegar a RJ-152 e seguir adiante até pegar a RJ-166, que me levaria de volta para a BR-492 por volta de Macuco. O trevo para a RJ-166 seria em Euclidelândia.
Como o nome sugere, é a terra natal de Euclides da Cunha. Fácil de achar porque tem uma pitoresca estação de trem já desativada com o nome do lugar ao lado da estrada, bem onde eu pensava que haveria o trevo. Parei para tirar fotos da estacão, mas não achei o trevo. Cadê ele? No lugar indicado não achei nada, nem trevo, nem placa, nem RJ-166. Acabei na entrada de uma escola. Perdido de novo.
Parei para consultar novamente o Google Maps e vi que haveria outra passagem para a BR-492 passando por Cantagalo e Cordeiro. Resolvi abandonar a busca da RJ-166 e seu trevo inexistente e segui adiante curtindo a estradinha em que estava, que era bem boazinha. Bem mais adiante, depois de Cantagalo, eu finalmente encontrei a planejada BR-492. Depois de várias horas e um grande desvio eu tinha encontrado meu caminho! Já não estava mais perdido!
No fim das contas, esse trecho acabou sendo uma da parte bem interessante da viagem. A sensação de estar perdidão, misturada com uma inexplicável autoconfiança de achar uma solução, foi bem legal. Talvez tenha sido uma das coisas mais próximas de “liberdade” que já pude sentir. Era eu, o sol, a moto, a estrada e uma absoluta certeza que tudo ia dar certo!
O roteiro foi planejado com antecedência no Google Maps. A viagem levaria pelo menos uns quatro dias, e eu queria cruzar o país por estradas diferentes das óbvias, passando por estradas bonitas e cheias de curvas.
No primeiro dia eu ia descer até perto de Campos dos Goytacazes e dali entrar para o interior do estado do Rio de Janeiro. A ideia era percorrer a BR-492 até Teresópolis, dali pegar a muito bem recomendada “Rota Romântica” (BR-495) até Petrópolis, e depois seguir pela RJ-117 até Miguel Pereira ou outra cidade próxima, onde o entardecer me encontrasse.
Planejei sair da BR-101 um pouco antes das encrencas do trecho urbano de Campos dos Goytacazes, numa localidade que no mapa se chamava Conselheiro Josino. Havia uma opção de entrar na BR-492 ainda antes, em Morro do Coco, mas por algum motivo o Google Maps não roteirizava por esse trecho inicial. E tinha ainda a opção ir até Campos para ali pegar a estrada para São Fidélis, mas esse era um trajeto bem mais longo e incluía passar por todo o trecho urbano da cidade de Campos, sempre muito engarrafado, lento e quente.
Saí de casa bem cedo e atravessei todo o sul do ES todo pela velha conhecida BR-101. O trevo de Conselheiro Josino era um lugarzinho tão pequeno que se bobeasse eu passava reto sem nem perceber que ali tinha um trevo! Mas estava ligado e entrei à direita para a estradinha com uma sensação de que ali começava a verdadeira viagem.
(Trevo de Cons. Josino no Google Street View)
Com aquela emoção das coisas novas e desconhecidas eu entrei na RJ-228, estradinha pequena na qual eu deveria seguir até Vila Nova de Campos. Tudo bem tranquilo, absolutamente ninguém na estrada e um solzão de verão aquecendo a roupa de couro.
Vila Nova de Campos e era um lugar tão pequeno quanto Conselheiro Josino, senão menor. Não encontrei nenhuma placa indicativa da estrada que deveria pegar, mas encontrei uma bifurcação na estrada com um posto de gasolina bem precário mais ou menos na quilometragem indicada. Seria ali? Devia ser.
Era a primeira entrada à esquerda, como indicava no mapa. Mas olhei a estrada e era um desastre, não dava sequer para saber se era de terra ou asfalto de tão ruim que estava. Parei no posto quase abandonado e perguntei a um cara que estava ali:
– Essa estrada vai para São Fidélis?
São Fidélis era a cidade maiorzinha no trecho adiante, achei que era boa referência. O cara no posto comentou:
- Ih, essa estrada tá muito ruim. Tem uma melhor logo à frente, passando Murundu.
Uhm, se era melhor que aquele desastre era uma opção interessante.
- Essa outra estrada tá boa?
- Ah, bem melhor que essa aqui. É toda asfaltada, nova!
Na verdade eu ainda estava em dúvida se aquela estrada que começava no posto de gasolina era mesmo a estrada que eu deveria pegar pelo roteiro. Ou será que era essa outra que o carinha falou? Pensei em checar no Maps com o celular, mas quem disse que tinha sinal de celular naquele finzinho de mundo? Nadinha, nem Vivo nem Tim, as duas operadoras que eu utilizava. Pensei por um minuto na coisa toda e resolvi seguir a indicação do sujeito. Fui adiante até Murundu, pensando que lá deveria ter alguma placa ou indicação dessa estrada para São Fidélis.
A tal da Murundu era outra comunidadezinha minúscula na RJ-228, apenas alguns quilômetros adiante de Vila Nova de Campos. Não demorei a chegar nela. Mas cadê a entrada da tal da estrada nova e boa? Passei devagar pela comunidade e não encontrei nada. Como o sujeito disse que era para “entrar em Murundu”, não quis seguir muito adiante pela estrada para ver se a entrada estava mais à frente. Voltei e entrei em Murundu, seguindo bem literalmente a indicação. Passei por umas poucas ruelas sem encontrar casa aberta ou pessoa pela rua e cheguei numa estrada. Entrei à esquerda achando que era ali, mas a estrada logo se transformou numa estrada de terra. Não poderia ser essa, pois o cara falou que a estrada era toda asfaltada! Parei, tirei uma foto, dei meia volta e voltei para Murundu.
Me embrenhei de novo nas ruazinhas até encontrar alguém. Perguntei como pegava a estrada para São Fidélis. A pessoa não sabia o caminho, mas disse que se eu seguisse à frente chegaria em Cardoso Moreira, que era mais perto de São Fidélis. Fui.
A estradinha estava longe de estar boa, e certamente não tinha sido recentemente asfaltada. Estava cheia de buracos. Mas segui por ela mesmo assim. Em torno, paisagens rurais de planície do norte do estado do Rio de Janeiro. Nada espetacular, essa região não é feia mas não chega a ser particularmente bela.
Eu não fazia nem ideia de onde estava realmente, mas o interessante é que isso não incomodava. Tinha a sensação de estar perdido mas ao mesmo tempo não tinha nenhum medo. Era ainda de manhã, eu tinha certeza de que em algum lugar eu chegaria e de lá daria um jeito de ir adiante. Não tinha pressa de chegar e nem reserva de hotel feita em cidade alguma do caminho. Era dono do meu destino, apesar de nem saber onde estava. Fui adiante pela estradinha curtindo a motocada e as paisagens.
Cheguei algum tempo depois na tal da Cardoso Moreira e me impressionei. Para uma cidade que nem aparecia nos meus mapas ela era bem estruturada e tinha até alguns prédios. Bem maior que as comunidadezinhas anteriores. Parei novamente para perguntar pelo caminho para São Fidélis, e a pessoa me perguntou:
- Você vai para São Fidélis mesmo?
- Na verdade vou para Nova Friburgo.
Se fosse ser preciso eu deveria dizer que estava indo para Porto Alegre, mas Nova Friburgo ficava no caminho que eu queria passar nesse dia. Era a “grande cidade” seguinte no meu roteiro. Vai que o sujeito nem soubesse onde era Porto Alegre?
Ele respondeu:
- Ah, mas aí não precisa passar em Fidélis! Segue adiante até o trevo e pega a estrada para Pureza. De lá você chega na estrada para Friburgo mais fácil.
Ri sozinho dentro do capacete com o nome do lugar - “Pureza”. Nunca tinha ouvido falar e nunca tinha visto no mapa. Já bem dentro do espírito “deixa a estrada me levar” eu nem pensei em pegar o celular para ver onde ficava ou como chegava lá. Só segui a indicação.
A estrada que saía de Cardoso Moreira (BR-356) estava em ótimo estado. Para onde será que ia? Fiquei curioso mas não a ponto de parar e olhar num mapa. Fui seguindo a indicação até chegar em um trevo. Seria ali a estrada para Pureza? A falha em achar a BR-492 em Murundu me fez duvidar. O sujeito tinha falado que era perto e aquela era a primeira entrada à esquerda. Mas de novo a estrada era de terra!
- Ah, não, seu moço. Logo adiante tem asfalto. É só esse pedacim no começo que é de terra!
Segui pela estradinha, que depois do trechinho de terra estava em boas condições, até a cidade de Pureza. Fui seguindo placas para Nova Friburgo até que cheguei numa cidade chamada Itaocara. São Fidélis já estava bem para trás e o caminho para Nova Friburgo já não era mais a BR-492 dos meus planos. Eu estava mais além dela. Minha preocupação era como faria para chegar nela de novo!
Tal como aconteceu em Cardoso Moreira me surpreendi com o tamanho de Itaocara. Era uma cidade bem maior que eu esperava. Maior que Cardoso Moreira, inclusive. E grande o suficiente para eu precisar de indicação para sair dela no caminho certo. Parei ao lado de uma pracinha e estudei o caminho a seguir. Eu deveria pegar a RJ-152 e seguir adiante até pegar a RJ-166, que me levaria de volta para a BR-492 por volta de Macuco. O trevo para a RJ-166 seria em Euclidelândia.
Como o nome sugere, é a terra natal de Euclides da Cunha. Fácil de achar porque tem uma pitoresca estação de trem já desativada com o nome do lugar ao lado da estrada, bem onde eu pensava que haveria o trevo. Parei para tirar fotos da estacão, mas não achei o trevo. Cadê ele? No lugar indicado não achei nada, nem trevo, nem placa, nem RJ-166. Acabei na entrada de uma escola. Perdido de novo.
Parei para consultar novamente o Google Maps e vi que haveria outra passagem para a BR-492 passando por Cantagalo e Cordeiro. Resolvi abandonar a busca da RJ-166 e seu trevo inexistente e segui adiante curtindo a estradinha em que estava, que era bem boazinha. Bem mais adiante, depois de Cantagalo, eu finalmente encontrei a planejada BR-492. Depois de várias horas e um grande desvio eu tinha encontrado meu caminho! Já não estava mais perdido!
No fim das contas, esse trecho acabou sendo uma da parte bem interessante da viagem. A sensação de estar perdidão, misturada com uma inexplicável autoconfiança de achar uma solução, foi bem legal. Talvez tenha sido uma das coisas mais próximas de “liberdade” que já pude sentir. Era eu, o sol, a moto, a estrada e uma absoluta certeza que tudo ia dar certo!
sábado, 29 de julho de 2017
Acidente com a Alemoa
Não vai acontecer a viagem planejada. No dia 19 de julho, três dias antes da viagem, eu bati com a Alemoa em um carro, no trajeto de ida ao trabalho.
Entrei em uma rua a um quarteirão de casa, uma rua com um lado todo de estacionamento oblíquo e com entradas e saídas de garagens entre eles. A rua àquela hora estava vazia, então eu dei uma aceleradinha, 1a, 2a marcha. Acho que estava meio distraído, pois não vi um carro sair da garagem por entre os carros estacionados. Quando vi era tarde demais. Freei com tudo mas bati na lateral traseira do carro e caí.
Eu estava de jaqueta, calça jeans, botas, luvas de couro e capacete. Bati com a cabeça no chão mas o capacete Zeus deu conta do recado muito bem. Jaqueta também fez seu trabalho, assim como as luvas e botas.
Danos físicos:
Clavícula esquerda quebrada e contusão na canela esquerda, que ficou sob a moto. Fiz cirurgia no mesmo dia e ganhei placa e nove parafusos.
Danos na moto:
Cilindros internos das duas bengalas tortos, roda dianteira muito amassada, e mais uns arranhadinhos em uma porção de peças.
domingo, 16 de julho de 2017
Projeto para mais uma viagem ao sul!
Vem aí mais uma viagem a Porto Alegre de moto! Vai ser no início de agosto, mas eu estou ansioso desde já! Nessa fase de planejamento é quando me aparecem os piores medos. Tudo que pode dar errado fica martelando na mente, e notícias de acidentes chamam mais atenção que de normal.
Mas eu já fiz isso outras três vezes, e sei que na hora que subir na moto e pegar a estrada todos esses medos desaparecem, e fica só o prazer da viagem.
De novo o roteiro vai de Vitória a Porto Alegre. Vou visitar meu pai e irmãos. Poderia ir de avião, mas qual seria a graça? Muito melhor congelar de frio em cima da moto e curtir de novo as mais belas estradas que tem daqui até lá.
Muitas estradas vão ser repetidas de viagens anteriores. A princípio, estradas que não passei ainda só tem quatro, duas na ida, duas na volta. As demais são repetidas.
Na ida, vou pegar a Estrada dos Romeiros, entre Barueri e Itu, em São Paulo. É uma estrada super antiga, cheia de curvas e muito recomendada por motoviajantes paulistas. Também vou pegar a RS-122 entre Vacaria e Caxias, no RS. Trecho de serra gaúcha, deve ser bem legal. Até hoje sempre fiz esse trecho pela BR-116.
Na volta, os trechos inéditso para mim serão a BR-101 de Angra dos Reis ao Rio, e o trecho que liga a Dutra a Rio Claro passando por Bananal. A Rio-Santos já fiz toda de Angra a Peruíbe, mas esse trechinho até a capital carioca só fiz de carro (não conta!).
No roteiro tem muitas outras estradas lindas. Algumas vou fazer no sentido inverso que fiz da outra vez, o que também é um pouco como passar pela primeira vez. Esse será o caso da Estrada da Cabeça da Anta e da BR-116 de Curitiba a Vacaria e de Caxias a Porto Alegre, na ida. Na volta, vai ter toda a Serra Catarinense (de Bom Jardim da Serra a Bom Retiro passando por Urubici), descida da BR-282, subida da Serra de Dona Francisca, e subida da Serra da Macaca.
Tem ainda uns trechos que são repetidos mas deliciosos assim mesmo. Caso da Régis Bittencourt entre Registro e Curitiba e da descida de Lídice (Rio Claro a Angra dos Reis).
Um detalhe diferente dessa viagem é que na ida, o trecho de Vitória a Niterói vai ser compartilhado com minha família, que vai de carro. Eu na moto, eles todos no carro. Em Niterói eu guardo a moto na casa de amigos e vamos todos viajar de carro uns dias na região de Paraty, e mais uns dias em Guapimirim. Depois, eles voltam para casa e eu vou para o sul sozinho.
Na volta, tenho uma parada de dois dias no Rio por questões de trabalho. Por este motivo, tanto na ida quanto na volta o trecho Vitória a Rio não tem estradinhas legais, e nem tá roteirizado.
Vamos aos trechos planejados.
1o dia: Niterói (RJ) a Tapiraí (SP).
Dutra e Ayrton Senna até Sampa. Depois, a Estrada dos Romeiros, e de Itu a Tapiraí. Se o tempo permitir, vou até Registro (SP). Mas só se chegar em Tapiraí bem cedo, porque esse trecho de Tapiraí a Registro é um dos mais bonitos da viagem - a famosa Estrada da Cabeça da Anta. Não quero fazer anoitecendo!
2o dia: Tapiraí (SP) a Lages (SC)
Pura estradona, mas das lindas. Começo com a descida da Cabeça da Anta, e depois pego a Régis de Registro a Curitiba. Esse trecho é muito bonito, assim como o seguinte, a BR-116 nos Campos de Cima da Serra! Esse dia promete um bom tanto de frio!
3o dia: Lages (SC) a Porto Alegre (RS)
Coloquei um trechinho pela RS-122 entre Vacaria e Caxias, para experimentar! Depois vem a bela descida da BR-116, já conhecida mas sempre deliciosa!
4o a 6o dia: Porto Alegre (RS)
7o dia: Porto Alegre (RS) a Joinville (SC)
O menor caminho entre dois pontos é uma reta, mas o MELHOR caminho, nem sempre. Se for de moto, será onde tiver mais curvas e as melhores paisagens! Nesse trecho vou fazer um enorme desvio para passar em três estradas imperdíveis - Serra do Rio do Rastro, estrada de Urubici e descida da BR-282!
8o dia: Joinville (SC) a Campinas (SP)
Nesse dia tem subida da Serra de Dona Francisca, mais um trecho de Régis Bittencourt (no sentido inverso), e a subida da linda e pacata Serra da Macaca! Fechando com pernoite na bela Campinas.
9o dia: Campinas (SP) a Rio de Janeiro (RJ)
Outro trecho que poderia ser simples, mas eu gosto de complicar. Então vou sair da Dutra em Queluz, enveredar para as bandas de Bananal para descer de novo a Estrada de Lídice e depois pegar a BR-101 de Angra ao Rio!
Mas eu já fiz isso outras três vezes, e sei que na hora que subir na moto e pegar a estrada todos esses medos desaparecem, e fica só o prazer da viagem.
De novo o roteiro vai de Vitória a Porto Alegre. Vou visitar meu pai e irmãos. Poderia ir de avião, mas qual seria a graça? Muito melhor congelar de frio em cima da moto e curtir de novo as mais belas estradas que tem daqui até lá.
Muitas estradas vão ser repetidas de viagens anteriores. A princípio, estradas que não passei ainda só tem quatro, duas na ida, duas na volta. As demais são repetidas.
Na ida, vou pegar a Estrada dos Romeiros, entre Barueri e Itu, em São Paulo. É uma estrada super antiga, cheia de curvas e muito recomendada por motoviajantes paulistas. Também vou pegar a RS-122 entre Vacaria e Caxias, no RS. Trecho de serra gaúcha, deve ser bem legal. Até hoje sempre fiz esse trecho pela BR-116.
Na volta, os trechos inéditso para mim serão a BR-101 de Angra dos Reis ao Rio, e o trecho que liga a Dutra a Rio Claro passando por Bananal. A Rio-Santos já fiz toda de Angra a Peruíbe, mas esse trechinho até a capital carioca só fiz de carro (não conta!).
No roteiro tem muitas outras estradas lindas. Algumas vou fazer no sentido inverso que fiz da outra vez, o que também é um pouco como passar pela primeira vez. Esse será o caso da Estrada da Cabeça da Anta e da BR-116 de Curitiba a Vacaria e de Caxias a Porto Alegre, na ida. Na volta, vai ter toda a Serra Catarinense (de Bom Jardim da Serra a Bom Retiro passando por Urubici), descida da BR-282, subida da Serra de Dona Francisca, e subida da Serra da Macaca.
Tem ainda uns trechos que são repetidos mas deliciosos assim mesmo. Caso da Régis Bittencourt entre Registro e Curitiba e da descida de Lídice (Rio Claro a Angra dos Reis).
Um detalhe diferente dessa viagem é que na ida, o trecho de Vitória a Niterói vai ser compartilhado com minha família, que vai de carro. Eu na moto, eles todos no carro. Em Niterói eu guardo a moto na casa de amigos e vamos todos viajar de carro uns dias na região de Paraty, e mais uns dias em Guapimirim. Depois, eles voltam para casa e eu vou para o sul sozinho.
Na volta, tenho uma parada de dois dias no Rio por questões de trabalho. Por este motivo, tanto na ida quanto na volta o trecho Vitória a Rio não tem estradinhas legais, e nem tá roteirizado.
Vamos aos trechos planejados.
1o dia: Niterói (RJ) a Tapiraí (SP).
Dutra e Ayrton Senna até Sampa. Depois, a Estrada dos Romeiros, e de Itu a Tapiraí. Se o tempo permitir, vou até Registro (SP). Mas só se chegar em Tapiraí bem cedo, porque esse trecho de Tapiraí a Registro é um dos mais bonitos da viagem - a famosa Estrada da Cabeça da Anta. Não quero fazer anoitecendo!
Pura estradona, mas das lindas. Começo com a descida da Cabeça da Anta, e depois pego a Régis de Registro a Curitiba. Esse trecho é muito bonito, assim como o seguinte, a BR-116 nos Campos de Cima da Serra! Esse dia promete um bom tanto de frio!
3o dia: Lages (SC) a Porto Alegre (RS)
Coloquei um trechinho pela RS-122 entre Vacaria e Caxias, para experimentar! Depois vem a bela descida da BR-116, já conhecida mas sempre deliciosa!
4o a 6o dia: Porto Alegre (RS)
7o dia: Porto Alegre (RS) a Joinville (SC)
O menor caminho entre dois pontos é uma reta, mas o MELHOR caminho, nem sempre. Se for de moto, será onde tiver mais curvas e as melhores paisagens! Nesse trecho vou fazer um enorme desvio para passar em três estradas imperdíveis - Serra do Rio do Rastro, estrada de Urubici e descida da BR-282!
8o dia: Joinville (SC) a Campinas (SP)
Nesse dia tem subida da Serra de Dona Francisca, mais um trecho de Régis Bittencourt (no sentido inverso), e a subida da linda e pacata Serra da Macaca! Fechando com pernoite na bela Campinas.
9o dia: Campinas (SP) a Rio de Janeiro (RJ)
Outro trecho que poderia ser simples, mas eu gosto de complicar. Então vou sair da Dutra em Queluz, enveredar para as bandas de Bananal para descer de novo a Estrada de Lídice e depois pegar a BR-101 de Angra ao Rio!
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
Um passeio longamente esperado
Quem é pai vai me entender. Tem coisas que você sonha fazer com o filho desde antes que ele nasce. Alguns desses sonhos depois chegam a acontecer, outros tantos nunca, seja porque a oportunidade não apareceu, você mudou de ideia, ou, mais frequente, o guri não desenvolve os mesmos gostos que você.
Dos meus sonhos como pai, um deles se realizou no último domingo. Não pense se aí que foi algo fabuloso é impensável, porque eu sou uma pessoa de sonhos simples. O sonho que realizei foi o de fazer um passeio em duas motos com meu filho.
Sim, é algo assim simples. Mas também é algo grande! Porque ele poderia não gostar de moto, não é mesmo? Tem umas tantas outras coisas que eu gosto e eles não! Então, compartilhar com ele essa que é uma das minhas maiores paixões foi muito especial para mim.
Fomos de Vitória ao Parque da Pedra Azul, na serra capixaba (roteiro 1 deste blog). Dá 200 km entre ida e volta, sendo que destes, 140 só de curvas.
Eu fui atrás dele o tempo todo, só acompanhando a uma distância segura. Passei dicas básicas de pilotagem antes de sair e orientei que ele fizesse o trajeto na velocidade que se sentisse confortável.
Ele pilotou bem demais! Eu não esperava essa destreza na primeira subida de serra com moto grande. Fez todas as curvas com segurança, sem frear no meio de nenhuma delas e nem abrir a trajetória! Senti falta de uma câmera onboard para poder mostrar a ele depois o grau de inclinação que atingiu!
Fomos os dois em motos BMW F800R. Eu na Alemoa (2010), ele na Blackie (2013).
O próximo sonho nessa lista é fazer uma viagem grande em dupla. Será que ele topa? O tempo vai dizer!
Fotos lá no topo da serra:
Dos meus sonhos como pai, um deles se realizou no último domingo. Não pense se aí que foi algo fabuloso é impensável, porque eu sou uma pessoa de sonhos simples. O sonho que realizei foi o de fazer um passeio em duas motos com meu filho.
Sim, é algo assim simples. Mas também é algo grande! Porque ele poderia não gostar de moto, não é mesmo? Tem umas tantas outras coisas que eu gosto e eles não! Então, compartilhar com ele essa que é uma das minhas maiores paixões foi muito especial para mim.
Fomos de Vitória ao Parque da Pedra Azul, na serra capixaba (roteiro 1 deste blog). Dá 200 km entre ida e volta, sendo que destes, 140 só de curvas.
Eu fui atrás dele o tempo todo, só acompanhando a uma distância segura. Passei dicas básicas de pilotagem antes de sair e orientei que ele fizesse o trajeto na velocidade que se sentisse confortável.
Ele pilotou bem demais! Eu não esperava essa destreza na primeira subida de serra com moto grande. Fez todas as curvas com segurança, sem frear no meio de nenhuma delas e nem abrir a trajetória! Senti falta de uma câmera onboard para poder mostrar a ele depois o grau de inclinação que atingiu!
Fomos os dois em motos BMW F800R. Eu na Alemoa (2010), ele na Blackie (2013).
O próximo sonho nessa lista é fazer uma viagem grande em dupla. Será que ele topa? O tempo vai dizer!
Fotos lá no topo da serra:
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017
Compilação dos roteiros de São Paulo
Assim como fiz para Minas Gerais, reuni em um único mapa todos as dicas de trechos para boas motocadas que já me foram dadas no estado de São Paulo. Inclui trechos que já são roteiros recomendados aqui no blog e uns outros tantos que ainda tenho que passar.
Alguns são interestaduais, mas por terem sua maior parte em São Paulo constam como deste estado. Caso da Rio-Santos, da Rastro da Serpente e uns outros que começam em SP e terminam em cidades próximas em MG.
Trechos que constam no mapa:
- Rastro da Serpente, de Capão Bonito/SP a Bocaiúva do Sul/PR
- Rio-Santos, de Itaguaí/RJ a Bertioga/SP
- Estrada de Cunha, de Guaratinguetá a Paraty/RJ
- Rodovia Monteiro Lobato, de São José dos Campos a Pouso Alegre/MG
- Estrada de Cruzeiro a Passa Quatro/MG
- Serra da Macaca, de São Miguel Arcanjo a Sete Barras
- Serra da Cabeça da Anta, de Juquiá a Piedade
- Estrada dos Romeiros, de Barueri a Itu
- Rodovia Oswaldo Cruz, de Ubatuba a Taubaté
- Rodovia Floriano Peixoto, de Taubaté a un Campos do Jordão
- Estrada de Morungaba a Águas de Lindóia
- Estrada de Serra Branca a Salesópolis
- Estrada de Piracaia a Joanópolis
Renan Guicho deu mais duas boas dicas nos comentários! Vão para a lista e depois eu atualizo o mapa:
- Itirapina a São Pedro
- Do Rodostop da Castello Branco a São Manoel
Alguns são interestaduais, mas por terem sua maior parte em São Paulo constam como deste estado. Caso da Rio-Santos, da Rastro da Serpente e uns outros que começam em SP e terminam em cidades próximas em MG.
Trechos que constam no mapa:
- Rastro da Serpente, de Capão Bonito/SP a Bocaiúva do Sul/PR
- Rio-Santos, de Itaguaí/RJ a Bertioga/SP
- Estrada de Cunha, de Guaratinguetá a Paraty/RJ
- Rodovia Monteiro Lobato, de São José dos Campos a Pouso Alegre/MG
- Estrada de Cruzeiro a Passa Quatro/MG
- Serra da Macaca, de São Miguel Arcanjo a Sete Barras
- Serra da Cabeça da Anta, de Juquiá a Piedade
- Estrada dos Romeiros, de Barueri a Itu
- Rodovia Oswaldo Cruz, de Ubatuba a Taubaté
- Rodovia Floriano Peixoto, de Taubaté a un Campos do Jordão
- Estrada de Morungaba a Águas de Lindóia
- Estrada de Serra Branca a Salesópolis
- Estrada de Piracaia a Joanópolis
Renan Guicho deu mais duas boas dicas nos comentários! Vão para a lista e depois eu atualizo o mapa:
- Itirapina a São Pedro
- Do Rodostop da Castello Branco a São Manoel
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
Novos roteiros em São Paulo
Assim como em MG, recolhi no tópico velho do M@D uma porção sugestões de trechinhos novos para boas motocadas no estado de SP.
Já tem como roteiros recomendados aqui, no estado de São Paulo, os trechos da Rastro da Serpente, Serra de Tapiraí, Serra da Macaca, Descida de Cunha e Rodovia Osvaldo Cruz, além da Rio-Santos, que é interestadual (bom, a Rastro também).
Os trechos sugeridos, que ainda vou precisar testar em futuras viagens são:
- Estrada dos Romeiros, de Barueri a Itu - 78 km
- Rodovia Floriano Peixoto, de Taubaté a Campos do Jordão - 45 km
- Cruzeiro a Passa Quatro - 28 km
- Rodovia Monteiro Lobato entre São José dos Campos e Pouso Alegre - 159 km
- Morungaba a Aguas de Lindoia - 63 km
- Santa Branca a Salesópolis - 21 km
- Piracaia a Joanópolis - 25 km
Já tem como roteiros recomendados aqui, no estado de São Paulo, os trechos da Rastro da Serpente, Serra de Tapiraí, Serra da Macaca, Descida de Cunha e Rodovia Osvaldo Cruz, além da Rio-Santos, que é interestadual (bom, a Rastro também).
Os trechos sugeridos, que ainda vou precisar testar em futuras viagens são:
- Estrada dos Romeiros, de Barueri a Itu - 78 km
- Cruzeiro a Passa Quatro - 28 km
- Rodovia Monteiro Lobato entre São José dos Campos e Pouso Alegre - 159 km
- Morungaba a Aguas de Lindoia - 63 km
- Santa Branca a Salesópolis - 21 km
- Piracaia a Joanópolis - 25 km
Compilação dos roteiros de Minas Gerais
Me diverti entre Google Maps e editor de imagens para agrupar todos os trechos que já me foram recomendados em Minas Gerais em um único mapa. Juntei aí dois trechos que já são roteiros recomendados no blog (Ponte Nova até a BR-040, e dessa mesma BR-040 até Moeda) com uma porção de outros que ainda tenho que experimentar.
Acho que o resultado ficou interessante.
Trechos do mapa:
- Sabará a Caetés
- Ponte Nova a BR-040
- BR-040 a Moeda
- Muriaé a Ervália
- Viçosa a Conselheiro Lafayette
- Ouro Branco a Ouro Preto
- Caxambu a Juiz de Fora
- Três Corações a Igarapé
- Três Corações a São Tomé das Letras
- São Bento do Sapucaí a Piranguinho
- Piumhi a São Roque de Minas
Estou pensando em fazer o mesmo para os outros estados - RJ, SP, PR, SC e RS, onde já tem uma porção de roteiros sugeridos.
Acho que o resultado ficou interessante.
Trechos do mapa:
- Sabará a Caetés
- Ponte Nova a BR-040
- BR-040 a Moeda
- Muriaé a Ervália
- Viçosa a Conselheiro Lafayette
- Ouro Branco a Ouro Preto
- Caxambu a Juiz de Fora
- Três Corações a Igarapé
- Três Corações a São Tomé das Letras
- São Bento do Sapucaí a Piranguinho
- Piumhi a São Roque de Minas
Estou pensando em fazer o mesmo para os outros estados - RJ, SP, PR, SC e RS, onde já tem uma porção de roteiros sugeridos.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
1a Viagem Vitória a Porto Alegre - relato
Em julho de 2015 eu fiz aquela que considero minha primeira viagem grande de moto. Fui de Vitória a Porto Alegre sozinho. Foram mais de 4400 km rodados com a Alemoa (BMW F800R), umas tantas estradas legais pelo caminho, algumas dificuldades vencidas, uma grande sensação de vitória ao chegar em casa e a certeza que eu faria isso de novo. Esse é o relato dessa viagem, resgatado das catacumbas das redes sociais e bastante ampliado.
Eu já tinha feito umas tantas viagens que muitos poderiam chamar de grandes, mas que para mim não eram grandes o suficiente. Fui e voltei de Vitória a Belo Horizonte e ao Rio de Janeiro mais de uma vez, fui de São Paulo a Vitória em dois dias, e uns tantos outros passeios menores. Mas nunca tinha passado vários dias viajando, dia após dia, 10 a 12 horas na moto, 600 ou 700 km cada dia. Queria muito ter essa sensação, saber como me sentiria, se aguentaria as dores e tudo o mais.
Sempre era (e é) um problema para mim fazer uma grande viagem de moto, porque todos na minha casa gostam de viajar, e para todos nós viajarmos juntos só indo de carro ou de avião. Eu não me sinto bem ocupando meus dias de férias, que poderia passar com eles, curtindo uma grande viagem sozinho enquanto eles ficam em casa "chupando os dedos" (por isso nunca consigo separar umas férias de 30 dias para ir a Ushuaia, por exemplo).
Mas aí no início de julho de 2015 eu atingi o limite de horas excedentes no banco de horas da empresa e fui convidado a tirar uma semana de folga. O que fazer nessa semana, se todos mais estariam trabalhando ou estudando? Ora, viajar de moto, claro!
Entre planejamento e viagem não foram nem duas semanas. Decisão, planejamento e ação rápidos, para não dar chance de pensar muito e desistir. Recebi todo o apoio que precisava da minha grande companheira da vida toda, Márcia, e inventei meu roteiro.
Planejando o roteiro:
Como já fiz muitas viagens de Vitória a Porto Alegre de carro, conhecia todas as grandes autoestradas desse trecho muito bem. E não queria apenas ir a Porto Alegre da forma mais rápida e simples, pois o propósito não era chegar lá, mas como ir até lá, por quais estradas passar, a experiência mesmo da viagem. Eu queria conhecer algumas estradas famosas que já tinha ouvido falar muito, como a Rastro da Serpente, a Serra do Rio do Rastro e a BR-116 na Serra Gaúcha! Estradas de serra, cheias de curvas, com belas paisagens!
Depois de muito olhar o mapa, as escolhidas foram:
- BR-116 - Subida da Serra das Araras
- Rastro da Serpente
- BR-376 - Descida de Curitiba a Joinville
- Serra do Rio do Rastro (subida e descida)
- BR-116 - Subida da Serra Gaúcha
- BR-116 - Campos de Cima da Serra (SC/PR)
- BR-393 - Vassouras a Além Paraíba
Não planejei os pontos de parada de cada dia, pois não sabia quanto cada um deles ia render em quilometragem. Tinha certo apenas as estradas para passar e o destino final. Como nunca piloto à noite, quando chegasse a hora do por do sol a cada dia, a ideia era parar na primeira cidade que aparecesse e dormir lá.
Preparando as coisas:
Como morei 23 anos lá no sul, sei bem que em Porto Alegre e região em julho costuma fazer bastante frio. Então comprei umas roupas de frio para usar por baixo do macacão de couro na Decathlon. Umas duas blusas tipo terceira pele térmica, e duas tipo segunda pele, de diferentes "graus térmicos". Com as possíveis combinações das 4 blusas pensei ter roupa para qualquer temperatura, desde um dia quente até um bem frio.
A moto estava toda OK, não requereu nenhum preparo especial. Pneus estavam bons, mecânica também, tudo o mais em condições de viagem.
Uns dois dias antes da viagem a moto deu um aviso no painel que havia uma avaria de luzes. As motos BMW tem disso, avisam "LAMP" no painel. Mas para minha surpresa, avisam antes do problema realmente aparecer. O farol estava funcionando, alto e baixo, lanterna traseira também. Resolvi seguir viagem mesmo assim. Só verifiquei qual era o tipo de lâmpada e pedi para Ricardo, um grande amigo que tenho no Rio de Janeiro, comprar outra para eu substituir no caminho se precisasse.
A noite anterior:
Alguns momentos numa viagem são muito especiais. Nessa, um dos mais especiais aconteceu antes dela, na noite imediatamente anterior. Eu estava em casa, sentado na copa, olhando a previsão do tempo para todo o trajeto, ponto a ponto, dia a dia. E ela era toda ruim. Quem anda de moto sabe o desânimo que dá de sair em uma viagem já com chuva. Pegar chuva pelo caminho é contingência, não se escolhe nem tem como evitar, mas sair de casa já com chuva é outro papo... e eu estava nessa situação. Pensei em desistir da viagem, ficar em casa. Mas aí apareceu Márcia, e com toda segurança do mundo (ou assim me pareceu, já que eu estava mergulhado em dúvidas) me falou algo como "claro que você vai!". Sim, claro que eu vou. Fim das dúvidas. Todo mundo deveria ter como parceiro alguém como Márcia, que dá força bem no momento que você precisa!
Dormi mal, como sempre que estou ansioso. E no dia seguinte, um sábado, acordei bem cedo. Me arrumei com todos os paramentos, tomei um café mixuruca (quem tem fome com tanta ansiedade?), me despedi de Márcia e fui. Estava iniciando ali minha grande viagem!
1o dia - sábado, 4/julho: De Vitória a Queluz
Nesse dia não tinha nenhuma grande estrada planejada, somente a subida da Serra das Araras na Dutra, já depois do Rio de Janeiro. Havia a ideia de que Ricardo pudesse me acompanhar num trecho do Rio adiante. Ele voltaria para o Rio sozinho no outro dia do ponto que parássemos, em algum lugar da Dutra.
Ao contrário do que dizia a previsão do tempo, havia sol quando saí de casa. Peguei a Rodosol até o trevo de Guarapari, e segui dali adiante pela BR-101 com rumo sul. Tempo muito bom em todo o trajeto, sol e calor em todo o trecho do dia. E a estrada calma como em todo final de semana que não é temporada de turistas.
Cheguei no Rio de Janeiro pelas 14 horas e liguei para Ricardo. Infelizmente ele não poderia me acompanhar, mas foi ao meu encontro levar as lâmpadas do farol que tinha comprado. Guardei as lâmpadas na bagagem e segui meu caminho, pois muita estrada ainda havia para rodar nesse dia.
Finalmente subi a Serra das Araras de moto, como sonhava há tempo. Foi bom, as curvas são bem legais, longas, dá para deitar bem a moto. Mas a serra é bem curtinha na subida e infelizmente acaba logo!
Segui adiante pela Dutra sem interrupções até passar da divisa. Parei apenas para tirar umas fotos aqui e ali, onde a paisagem convidava. No topo da Serra das Araras e nas retonas de Resende, por exemplo.
Ao chegar em Queluz, logo depois da divisa de SP, vi da estrada um anúncio de "hotel para viajantes" na beira da rodovia. Não era muito tarde ainda, creio que umas 5 da tarde. Daria para andar mais, mas aquela era uma oferta interessante. Estava bem ali pertinho e com preço convidativo. E eu poderia trocar a lâmpada do farol baixo, que a essa altura já desistido da vida para sempre. Fui lá ver. O hotel era simplezinho, sem ar condicionado nos quartos, apenas ventilador. Mas motoviajantes solitários não requerem muita coisa. Fiquei.
Troquei a lâmpada do farol em poucos minutos. Tarefa simples e fácil. E fui jantar na megalanchonete Graal anexa ao hotel. Era tão boa que gostei mais ainda de ter parado ali.
Algumas fotos do 1o dia:
Frade e a Freira, próximo de Cachoeiro do Itapemirim/ES
A primeira divisa de estado - ES/RJ
Retonas da BR-101 próximo de Niterói
Alto da Serra das Araras
Segunda divisa do dia - RJ/SP
Trocando a lâmpada da moto
Algumas fotos do 1o dia:
Frade e a Freira, próximo de Cachoeiro do Itapemirim/ES
A primeira divisa de estado - ES/RJ
Retonas da BR-101 próximo de Niterói
Alto da Serra das Araras
Segunda divisa do dia - RJ/SP
Trocando a lâmpada da moto
2o dia - domingo, 5/julho: De Queluz/SP a Bocaiúva do Sul/PR
A partir daqui a previsão do tempo começou a acertar. O tempo estava bem nubladão e frio ao acordar e tomar café, novamente na megalanchonete. Coloquei todas as tralhas na moto de volta e saí para a estrada. Friozinho de 12 graus no planalto de São Paulo. Dava para sentir todas as pequenas aberturas de ventilação do meu casaco de couro! Ele que sempre me parece bem quente, estava um gelo.
Para piorar a sensação de frio uns tantos quilômetros adiante começou a chover. Parei para colocar a capa de chuva. E tive uma surpresa algum tempo depois - apesar da chuva, eu parei de sentir frio. Aí me dei conta de uma obviedade - o que dá a sensação de frio é o vento entrando pela roupa. Como a capa de chuva bloqueava a chuva e também o vento, me deixava mais quentinho e confortável. Muito bom!
A chuva parou quando eu estava perto de São Paulo, e eu passei pela megacidade pela marginal Tietê. Segui as indicações de estrada com destino Sorocaba. Mas meu destino na verdade era a estrada chamada Rastro da Serpente, que liga Capão Bonito a Curitiba. Estrada famosa entre motociclistas por ter milhares de curvas!
Cheguei em Capão Bonito e procurei o bar Porthal Rastro da Serpente. Me perdi um tanto até encontrar o bar, que hoje sei que fica bem na entrada da cidade, super fácil... mas faz parte. Bati um papo com o cara do bar, naquele momento só tinha eu lá. Ele me contou que atravessar o trecho todo levava entre 4 horas e 5 horas, na melhor hipótese. E aí eu fiquei preocupado se teria tempo para fazer todo o trecho antes de anoitecer, pois já eram 13 horas e eu certamente não iria ser dos mais rápidos nesse trecho desconhecido e cheio de curvas. Almocei rapidamente numa churrascaria do posto de gasolina ao lado do bar e me mandei para a famosa Rastro da Serpente.
A estrada, ao contrário das megaestradas paulistas até ali, estava em más condições. É uma estradinha de pista simples, e efetivamente cheia de curvas! Raros são os trechos retos de mais de 300 metros. E para meu azar a chuva voltou logo ao sair de Capão Bonito, e a combinação de chuva com curvas e buracos no asfalto não era meu prato predileto. Mas fui em frente. Um cagaço logo no início - uma leve derrapada de dianteira - já me deixou bem alerta e bem mais cuidadoso! Segui "na ponta dos dedos". Mas curtindo o desafio.
Parei em Apiaí para uma foto obrigatória na placa estilizada da estrada na praça de entrada da cidade. O tempo não era dos melhores, então não fiquei muito tempo. Segui adiante para mais outras tantas curvas. Outras cidadezinhas apareceram pelo caminho. Ribeira, bem na divisa com o Paraná. Depois Tunas do Sul. Desta em diante a estrada me pareceu mais bonita. Serpenteava pelo topo dos morros, descortinando horizontes de um lado e outro. Tempo bem frio em todo o trajeto, alguns lugares fez apenas 8 graus. Com a umidade do ar, parecia menos.
Estava anoitecendo quando cheguei numa cidadezinha de beira de estrada - Bocaiúva do Sul. Parei no primeiro hotelzinho que vi. Era uma espelunquinha, mas fiquei lá mesmo assim. Hotel Vargas. Dizer que não tinha ar condicionado é desnecessário, por muito tinha cama (tá, exagerei...). Mas me servia por uma noite, aquela noite. Larguei a moto, tomei um banho para aquecer o corpo e o espírito e fui a pé jantar uma pizza naquela que me pareceu a única pizzaria do lugar. Surpreendentemente, muito boa pizza.
Algumas fotos do 2o dia:
Parada para café em Taubaté/SP
Estradonas paulistas... olha o frio na segunda foto da sequência!
O bar Porthal Rastro da Serpente e sua placa famosa:
Pracinha de Apiaí, onde fica a segunda placa.
Para mim a verdadeira placa da Rastro é essa aí... É curva e mais curva!
A moto estacionada na frente do hotelzinho em Bocaiúva do Sul.
3o dia - 2a feira, 6 de julho: De Bocaiúva do Sul/PR a Araranguá/SC
Meu projeto, um tanto irreal (hoje eu sei) era ir de Bocaiúva até Porto Alegre em um dia, passando ainda pela Serra do Rio do Rastro. Somando quilometragens e tempo planejado para cada trecho parecia possível. Levaria 12 horas.
Saí com tempo frio e bem nublado novamente. Mas não tinha certeza se ia chover ou abrir, então não coloquei as capas. O macacão de couro resiste a chuvisquinho pilotando no vento. Logo peguei um trecho mais urbano, das cercanias de Curitiba. Aí a chuva apertou, e eu coloquei as capas. Já estava um pouco úmido a este ponto, a chuva era mais intensa do que o vento conseguia secar.
Desci a serra para Joinville, cumprindo meu terceiro objetivo de viagem, descer a BR-376. A estrada não me encantou. Já tinha passado umas tantas vezes nela de carro, sempre pensando que de moto deveria ser muito legal. Ok, ela tem boas curvas, mas creio que seja mais divertida em velocidades maiores que as que eu rodava, e especialmente sem chuva. Na chuva meu lado "Valentino Rossi" desaparece como por encanto. Fiz todas as curvas com cuidado.
A chuva se manteve constante em todo o trecho de Curitiba até Florianópolis. Sem trégua. Comecei a me sentir molhado, mesmo com a capa. Imaginei que tinha sido por ter colocado a capa com as roupas já um pouco molhadas em Curitiba. A umidade teria penetrado no couro. Fiquei me recriminando pelo erro, deveria ter saído do hotel já com as capas.
Parei no entorno de Florianópolis num posto de gasolina para abastecer, comer alguma coisa e me recuperar um pouco do frio que sentia. Estava com a segunda e a terceira peles mais quentes, mas ainda assim era frio. Tirei as capas de chuva, as luvas encharcadas e fiz um lanche. Nisso chegaram no posto dois caras em duas Harleys, e fui bater papo com eles. Vinham de algum lugar do Paraná que não lembro, e pretendiam ir para a Serra do Rio do Rastro, como eu. Mas a esse ponto eu tinha muitas dúvidas se iria lá. Que ia fazer numa estrada super travada de serra com uma chuva persistente como aquela? O que seria possível ver lá de cima? Não parecia boa ideia. A Serra do Rio do Rastro ficaria para o trajeto de retorno.
Comentei com eles sobre isso, e eles desistiram de seguir pela BR-101 até a Serra do Rio do Rastro. Resolveram subir a BR-282 e inventar um novo rumo conforme estivessem as condições do tempo. Eu segui pela BR-101 mesmo, era meu melhor caminho. Se continuasse chovendo eu iria direto até Porto Alegre nesse mesmo dia.
Não muito depois de Palhoça, para minha grande surpresa, a chuva parou completamente. Pouco a pouco o tempo foi abrindo até fazer sol! Tirei as capas e rodei um bom trecho com o casaco de couro um pouco aberto, para o sol e o vento secar as roupas que estavam úmidas. Essa melhora nas condições climáticas acabou com minhas dúvidas sobre subir a Serra do Rio do Rastro - é claro que eu ia subir ela. Esse era meu maior objetivo de viagem! E acabei por me sentir um pouco culpado de fazer os colegas de Harley mudar de ideia.
Saí da BR-101 em Tubarão, em direção a Lauro Muller. Me surpreendi com a qualidade das cidades do interior catarinense nesse trecho, em especial com São Ludgero e Orleans. Não conhecia essa região. Me pareceram boas cidades, com muitos prédios. Eu realmente não esperava cidades com essa infraestrutura por ali.
Cheguei na SRR com uma sensação indescritível de vitória por finalmente estar ali, naquele lugar cantado em prosa e verso por tantos colegas motociclistas! Subi a serra com todo cuidado, parando para tirar fotos em tudo quanto é curva. E como é bonito o lugar... merece cada foto e muito mais! Foi um prazer idescritível estar ali.
Cheguei no topo da serra e parei no primeiro bar que achei. Fiz um lanche. Era um barzinho muito mixuruca, que duas senhoras tomavam conta. Não havia mais ninguém por lá, só eu e elas. Achei estranho para lugar tão famoso. Até que elas mesmo resolveram o mistério - me disseram que havia logo adiante um mirante, lugar das melhores fotos da serra. E era logo adiante mesmo, uns 500 metros se tanto. Segui até lá. Realmente era o lugar. Tirei montes de fotos! Tinha até uma simpática família de quatis por ali, garimpando comida com os visitantes.
Fiquei um tempo por ali, tirei todas as fotos que queria e aproveitando o tempo surpreendentemente limpo depois de tanta chuva no dia. Dava para ver bem longe lá de cima! As fotos ficaram ótimas. Quando eu imaginaria isso no meio daquela chuva toda de Curitiba a Florianópolis! Lição - nunca dê um objetivo por perdido até que a partida acabe, e sem ao menos tentar!
Me dei conta lá em cima que não teria tempo para chegar em Porto Alegre no mesmo dia, como cheguei a pensar no dia anterior, ao olhar os trechos do Google Maps. Então liguei de lá para um grande amigo, Karlo, que mora em Araranguá, relativamente próximo. Amigão de mais de 30 anos de amizade. Me escalei para passar a noite na casa dele, na maior cara de pau. Ele nem sabia que eu estava por ali perto, menos ainda que estava numa viagem de moto. Mas me recebeu maravilhosamente, como sempre (não é a primeira vez que me escalo).
Desci a serra tirando mais fotos ainda, e rumei para Araranguá. Já estava completamente seco de novo, pois o vento da estrada secou a roupa toda, até as luvas de couro encharcadas. Cheguei em Araranguá ainda de dia, e encontrei Karlo no seu escritório. Dali fomos para a casa dele, onde encontrei o restante da pequena família - Adriana e Guilherme. Muito bom revê-los.
No fim das contas, o que começou como um dia cinzento, frio e chuvoso acabou sendo uma grande conquista. A Serra do Rio do Rastro foi o ponto alto de toda a viagem, certamente.
Algumas fotos do 3o dia:
Próximo de Laguna. Lá ao longe a nova ponte, parecendo as velas de um barco.
Primeira placa que encontrei falando da Serra do Rio do Rastro, em Lauro Muller. É pra lá que eu vou!!
Paisagem da serra, ainda na parte baixa, antes de começar a subida. Já é bela.
O café no topo da serra, no 'bar errado'.
A serra em toda sua magnitude, vista do mirante. Quem diria que peguei quase 400 km de chuva nesse dia aí?
Dia de chegar ao destino passando por estradas muito conhecidas - a BR-101 e a BR-290. Sem previsão de grandes emoções além daquela de estar de volta ao meu lugar, ao meu Rio Grande, à casa de meu pai (o que, convenhamos, já é emoção suficiente).
Saí com chuva de novo. Mas desta vez chuva de verdade, sem meio termo. Coloquei todas as capas possíveis e fui para a estrada. O sul de Santa Catarina tem grandes retas e a estrada está ótima, foi só seguir em diante 'toureando' o frio. Faltavam pouco mais de 250 km para chegar em casa.
Parei na divisa de estado (para nós gaúchos, fronteira) e tirei algumas fotos. Minha última fronteira do trajeto de ida! E entrada do meu rincão, da minha terra. Não importa quantas vezes eu passe nesse local, sempre me emociono. É como chegar em casa.
Não lembro se foi antes desse ponto ou depois que senti que já estava todo molhado, da cabeça aos pés. E descobri então que não foi o fato de ter vestido a capa já um pouco molhado no dia anterior que me fez sentir úmido, mas sim o fato da capa ter perdido a impermeabilidade. Ela era feita de um tecido tipo guarda-chuva, e sei lá porquê, passou a deixar a chuva passar. Pouco a pouco eu fui ficando completamente molhado, mas completamente mesmo, até as meias, as cuecas, tudo. Ensopado numa temperatura de 10 a 12 graus, o que somado com o vento da própria pilotagem potencializava a sensação desagradável. As únicas partes quentes do meu corpo eram as palmas das mãos, porque a Alemoa tem aquecedor de manoplas. E que santo equipamento... não sei nem dizer o que seria esse dia gelado sem ele!!
Cheguei em POA no meio da tarde, e dei com a cara na porta. Não tinha ninguém em casa naquele momento. Eu não tinha avisado a ninguém a hora que chegaria, porque não sabia que hora seria. E calhou de ser exatamente quando não tinha ninguém! Tive que esperar algum tempo até alguém chegar e abrir o portão do prédio... e isso todo molhado e gelado... uma beleza!
Passado esse pequeno tormento, eu finalmente entrei em casa! Tirei todas as roupas encharcadas, tomei um banho bem quente, um café e voltei à vida! Eu tinha cumprido meus objetivos e estava imensamente feliz comigo mesmo! Tinha chegado em Porto Alegre são e salvo, superando todas as dificuldades, o frio, a chuva, o medo.
P.S 1: Não tirei uma única foto nesse dia. Chuva demais!
P.S. 2: O conjunto de macacão e calça de couro levou quase 3 dias tomando vento quente da estufa para secar!
A estrada, ao contrário das megaestradas paulistas até ali, estava em más condições. É uma estradinha de pista simples, e efetivamente cheia de curvas! Raros são os trechos retos de mais de 300 metros. E para meu azar a chuva voltou logo ao sair de Capão Bonito, e a combinação de chuva com curvas e buracos no asfalto não era meu prato predileto. Mas fui em frente. Um cagaço logo no início - uma leve derrapada de dianteira - já me deixou bem alerta e bem mais cuidadoso! Segui "na ponta dos dedos". Mas curtindo o desafio.
Parei em Apiaí para uma foto obrigatória na placa estilizada da estrada na praça de entrada da cidade. O tempo não era dos melhores, então não fiquei muito tempo. Segui adiante para mais outras tantas curvas. Outras cidadezinhas apareceram pelo caminho. Ribeira, bem na divisa com o Paraná. Depois Tunas do Sul. Desta em diante a estrada me pareceu mais bonita. Serpenteava pelo topo dos morros, descortinando horizontes de um lado e outro. Tempo bem frio em todo o trajeto, alguns lugares fez apenas 8 graus. Com a umidade do ar, parecia menos.
Estava anoitecendo quando cheguei numa cidadezinha de beira de estrada - Bocaiúva do Sul. Parei no primeiro hotelzinho que vi. Era uma espelunquinha, mas fiquei lá mesmo assim. Hotel Vargas. Dizer que não tinha ar condicionado é desnecessário, por muito tinha cama (tá, exagerei...). Mas me servia por uma noite, aquela noite. Larguei a moto, tomei um banho para aquecer o corpo e o espírito e fui a pé jantar uma pizza naquela que me pareceu a única pizzaria do lugar. Surpreendentemente, muito boa pizza.
Algumas fotos do 2o dia:
Parada para café em Taubaté/SP
Estradonas paulistas... olha o frio na segunda foto da sequência!
Chegada em Capão Bonito, ponto de entrada na Rastro da Serpente.
O bar Porthal Rastro da Serpente e sua placa famosa:
Pracinha de Apiaí, onde fica a segunda placa.
Para mim a verdadeira placa da Rastro é essa aí... É curva e mais curva!
A moto estacionada na frente do hotelzinho em Bocaiúva do Sul.
3o dia - 2a feira, 6 de julho: De Bocaiúva do Sul/PR a Araranguá/SC
Meu projeto, um tanto irreal (hoje eu sei) era ir de Bocaiúva até Porto Alegre em um dia, passando ainda pela Serra do Rio do Rastro. Somando quilometragens e tempo planejado para cada trecho parecia possível. Levaria 12 horas.
Saí com tempo frio e bem nublado novamente. Mas não tinha certeza se ia chover ou abrir, então não coloquei as capas. O macacão de couro resiste a chuvisquinho pilotando no vento. Logo peguei um trecho mais urbano, das cercanias de Curitiba. Aí a chuva apertou, e eu coloquei as capas. Já estava um pouco úmido a este ponto, a chuva era mais intensa do que o vento conseguia secar.
Desci a serra para Joinville, cumprindo meu terceiro objetivo de viagem, descer a BR-376. A estrada não me encantou. Já tinha passado umas tantas vezes nela de carro, sempre pensando que de moto deveria ser muito legal. Ok, ela tem boas curvas, mas creio que seja mais divertida em velocidades maiores que as que eu rodava, e especialmente sem chuva. Na chuva meu lado "Valentino Rossi" desaparece como por encanto. Fiz todas as curvas com cuidado.
A chuva se manteve constante em todo o trecho de Curitiba até Florianópolis. Sem trégua. Comecei a me sentir molhado, mesmo com a capa. Imaginei que tinha sido por ter colocado a capa com as roupas já um pouco molhadas em Curitiba. A umidade teria penetrado no couro. Fiquei me recriminando pelo erro, deveria ter saído do hotel já com as capas.
Parei no entorno de Florianópolis num posto de gasolina para abastecer, comer alguma coisa e me recuperar um pouco do frio que sentia. Estava com a segunda e a terceira peles mais quentes, mas ainda assim era frio. Tirei as capas de chuva, as luvas encharcadas e fiz um lanche. Nisso chegaram no posto dois caras em duas Harleys, e fui bater papo com eles. Vinham de algum lugar do Paraná que não lembro, e pretendiam ir para a Serra do Rio do Rastro, como eu. Mas a esse ponto eu tinha muitas dúvidas se iria lá. Que ia fazer numa estrada super travada de serra com uma chuva persistente como aquela? O que seria possível ver lá de cima? Não parecia boa ideia. A Serra do Rio do Rastro ficaria para o trajeto de retorno.
Comentei com eles sobre isso, e eles desistiram de seguir pela BR-101 até a Serra do Rio do Rastro. Resolveram subir a BR-282 e inventar um novo rumo conforme estivessem as condições do tempo. Eu segui pela BR-101 mesmo, era meu melhor caminho. Se continuasse chovendo eu iria direto até Porto Alegre nesse mesmo dia.
Não muito depois de Palhoça, para minha grande surpresa, a chuva parou completamente. Pouco a pouco o tempo foi abrindo até fazer sol! Tirei as capas e rodei um bom trecho com o casaco de couro um pouco aberto, para o sol e o vento secar as roupas que estavam úmidas. Essa melhora nas condições climáticas acabou com minhas dúvidas sobre subir a Serra do Rio do Rastro - é claro que eu ia subir ela. Esse era meu maior objetivo de viagem! E acabei por me sentir um pouco culpado de fazer os colegas de Harley mudar de ideia.
Saí da BR-101 em Tubarão, em direção a Lauro Muller. Me surpreendi com a qualidade das cidades do interior catarinense nesse trecho, em especial com São Ludgero e Orleans. Não conhecia essa região. Me pareceram boas cidades, com muitos prédios. Eu realmente não esperava cidades com essa infraestrutura por ali.
Cheguei na SRR com uma sensação indescritível de vitória por finalmente estar ali, naquele lugar cantado em prosa e verso por tantos colegas motociclistas! Subi a serra com todo cuidado, parando para tirar fotos em tudo quanto é curva. E como é bonito o lugar... merece cada foto e muito mais! Foi um prazer idescritível estar ali.
Cheguei no topo da serra e parei no primeiro bar que achei. Fiz um lanche. Era um barzinho muito mixuruca, que duas senhoras tomavam conta. Não havia mais ninguém por lá, só eu e elas. Achei estranho para lugar tão famoso. Até que elas mesmo resolveram o mistério - me disseram que havia logo adiante um mirante, lugar das melhores fotos da serra. E era logo adiante mesmo, uns 500 metros se tanto. Segui até lá. Realmente era o lugar. Tirei montes de fotos! Tinha até uma simpática família de quatis por ali, garimpando comida com os visitantes.
Fiquei um tempo por ali, tirei todas as fotos que queria e aproveitando o tempo surpreendentemente limpo depois de tanta chuva no dia. Dava para ver bem longe lá de cima! As fotos ficaram ótimas. Quando eu imaginaria isso no meio daquela chuva toda de Curitiba a Florianópolis! Lição - nunca dê um objetivo por perdido até que a partida acabe, e sem ao menos tentar!
Me dei conta lá em cima que não teria tempo para chegar em Porto Alegre no mesmo dia, como cheguei a pensar no dia anterior, ao olhar os trechos do Google Maps. Então liguei de lá para um grande amigo, Karlo, que mora em Araranguá, relativamente próximo. Amigão de mais de 30 anos de amizade. Me escalei para passar a noite na casa dele, na maior cara de pau. Ele nem sabia que eu estava por ali perto, menos ainda que estava numa viagem de moto. Mas me recebeu maravilhosamente, como sempre (não é a primeira vez que me escalo).
Desci a serra tirando mais fotos ainda, e rumei para Araranguá. Já estava completamente seco de novo, pois o vento da estrada secou a roupa toda, até as luvas de couro encharcadas. Cheguei em Araranguá ainda de dia, e encontrei Karlo no seu escritório. Dali fomos para a casa dele, onde encontrei o restante da pequena família - Adriana e Guilherme. Muito bom revê-los.
No fim das contas, o que começou como um dia cinzento, frio e chuvoso acabou sendo uma grande conquista. A Serra do Rio do Rastro foi o ponto alto de toda a viagem, certamente.
Algumas fotos do 3o dia:
Próximo de Laguna. Lá ao longe a nova ponte, parecendo as velas de um barco.
Primeira placa que encontrei falando da Serra do Rio do Rastro, em Lauro Muller. É pra lá que eu vou!!
Paisagem da serra, ainda na parte baixa, antes de começar a subida. Já é bela.
O café no topo da serra, no 'bar errado'.
A serra em toda sua magnitude, vista do mirante. Quem diria que peguei quase 400 km de chuva nesse dia aí?
Os simpáticos quatis.
Dia 4 - 3a feira, 7 de julho: de Araranguá/SC a Porto Alegre/RS
Dia de chegar ao destino passando por estradas muito conhecidas - a BR-101 e a BR-290. Sem previsão de grandes emoções além daquela de estar de volta ao meu lugar, ao meu Rio Grande, à casa de meu pai (o que, convenhamos, já é emoção suficiente).
Saí com chuva de novo. Mas desta vez chuva de verdade, sem meio termo. Coloquei todas as capas possíveis e fui para a estrada. O sul de Santa Catarina tem grandes retas e a estrada está ótima, foi só seguir em diante 'toureando' o frio. Faltavam pouco mais de 250 km para chegar em casa.
Parei na divisa de estado (para nós gaúchos, fronteira) e tirei algumas fotos. Minha última fronteira do trajeto de ida! E entrada do meu rincão, da minha terra. Não importa quantas vezes eu passe nesse local, sempre me emociono. É como chegar em casa.
Não lembro se foi antes desse ponto ou depois que senti que já estava todo molhado, da cabeça aos pés. E descobri então que não foi o fato de ter vestido a capa já um pouco molhado no dia anterior que me fez sentir úmido, mas sim o fato da capa ter perdido a impermeabilidade. Ela era feita de um tecido tipo guarda-chuva, e sei lá porquê, passou a deixar a chuva passar. Pouco a pouco eu fui ficando completamente molhado, mas completamente mesmo, até as meias, as cuecas, tudo. Ensopado numa temperatura de 10 a 12 graus, o que somado com o vento da própria pilotagem potencializava a sensação desagradável. As únicas partes quentes do meu corpo eram as palmas das mãos, porque a Alemoa tem aquecedor de manoplas. E que santo equipamento... não sei nem dizer o que seria esse dia gelado sem ele!!
Cheguei em POA no meio da tarde, e dei com a cara na porta. Não tinha ninguém em casa naquele momento. Eu não tinha avisado a ninguém a hora que chegaria, porque não sabia que hora seria. E calhou de ser exatamente quando não tinha ninguém! Tive que esperar algum tempo até alguém chegar e abrir o portão do prédio... e isso todo molhado e gelado... uma beleza!
Passado esse pequeno tormento, eu finalmente entrei em casa! Tirei todas as roupas encharcadas, tomei um banho bem quente, um café e voltei à vida! Eu tinha cumprido meus objetivos e estava imensamente feliz comigo mesmo! Tinha chegado em Porto Alegre são e salvo, superando todas as dificuldades, o frio, a chuva, o medo.
P.S 1: Não tirei uma única foto nesse dia. Chuva demais!
P.S. 2: O conjunto de macacão e calça de couro levou quase 3 dias tomando vento quente da estufa para secar!