O plano era sair de Curitiba, pegar a Rastro da Serpente, dali seguir para São Paulo, e desta subir pela Dutra até Queluz.
Saí de Curitiba às 7:30, depois de tomar café no hotel, fechar a conta e arrumar a moto. O tempo estava com uma cara bem ruim, mas não chovia. Coloquei o celular com o Google Maps aberto no suporte de guidon para sair da cidade sem dramas e me fui. Eu queria pegar a Estrada da Ribeira, como chamam no Paraná (os paulistas é que colocaram o nome Rastro da Serpente). Essa estrada começa no antigo Trevo do Atuba.
Chegando no trevo, ele não é mais um trevo, só tem opção de continuar no sentido São Paulo. Segui as indicações do Gmaps de entrar bem mais adiante. Só que a entrada indicada pelo Gmaps estava desativada, bloqueada por blocos de gelo baiano. Segui mais adiante para retornar. Voltei para entrar à direita na estrada, mas o Gmaps não indicou a saída, e novamente eu passei do ponto. Mandei o Gmaps às favas e voltei até o trevo do Atuba. Só nessa perdi uns 30 km ou mais zanzando na Régis Bittencourt à toa. Méritos ao Gmaps e à péssima sinalização da cidade de Curitiba.
Logo ao entrar na Rastro, parei para colocar as capas de chuva. Tava muito na cara que ia chover logo ali adiante. Depois de todo encapado segui, mas nessas idas e vindas por erro de mapa e parada para capas acabei perdendo uma hora inteira de viagem.
A Rastro da Serpente é uma estradinha que vai do entorno de Curitiba até Capão Bonito, em SP. Tem mais de 1000 curvas, de todo tipo, das fechadas às abertas, das fáceis às assustadoras. Serpenteia por cima da serra paranaense e paulista, com belos horizontes por todo o percurso. No trajeto cidadezinhas como Tunas, Ribeira, Adrianópolis, Apiaí. Nenhuma delas digna de nota...
Essa estrada é famosa na motoqueirada justamente por ter milhares de curvas. E curva é tudo que se gosta numa moto. Mas tomei uns bons sustos nela. No primeiro, eu estava fazendo uma curva cega para a esquerda, bem fechada. Escolhi a tangente e inclinei a moto. No meio da curva vinha um caminhão enorme de cara para mim. Baita cagaço. Freei com tudo, a moto levantou e segui reto. Me safei só porque minha BMW tem freios com ABS, que eu senti atuando. Cheguei a pensar que ia cair, pois a moto dançou toda. No segundo susto, eu estava em uma curva longa para a esquerda também, daquelas gostosas de pilotar. Moto inclinada, controlando aceleração para manter a inclinação, curtindo muito a brincadeira. Só que no final a pista estava coberta de areia solta! E estar com a moto inclinadona numa pista de areia não é nada agradável (menos ainda seguro...). Senti a moto dar uma escapadinha de frente, mas retomou aderência e consegui seguir adiante. Bom, essa é a Rastro, uma estrada desafiadora que deve ser curtida como passeio, não como motódromo.
A estrada no trecho paulista está cheia de obras, tive que parar umas duas ou três vezes naqueles pare/siga. Quando as obras terminarem deve ficar top. Vi que estão refazendo a estrada toda, recapeando por completo e até adicionando faixas auxiliares de ultrapassagem.
Saindo da Rastro entrei nas megaestradas paulistas. Raposo Tavares, SP-075 e outras que não lembro o nome. Tudo duplicada, perfeita, coisa de europeu. A velocidade não baixa dos 110 do limite, não tem motivo. E com isso se adianta muito caminho e tempo. Tanto que resolvi, no meio do caminho, passar pelo entorno de Campinas e não por São Paulo. Inventei de pegar a Dom Pedro I para sair lá adiante na Dutra. Adicionava assim uns tantos quilômetros ao trajeto, mas calculando o tempo pela média que vinha conseguindo, parecia tranquilo.
O que eu não contava é que no meio da Dom Pedro I a chuva que eu esperava desde a manhã chegou. E chegou com muita força. Creio ter sido a maior tempestade que eu já atravessei pilotando uma moto. Gotas que pareciam pedradas no capacete e na roupa. Raios caindo perto, me fazendo pensar se atingem motociclistas (será?). Me mantive a uma distância segura do carro da frente, e andamos, eu, ele e o que vinha atrás de mim, a uns 60 ou 70 km/h até passar a tempestade, nem sei quantos quilômetros adiante (muitos). Eu só via as lanternas dele, tudo o mais era branco de água. Não apareceu um único posto de gasolina em todo o trecho para me abrigar e esperar a tempestade passar. Aliás, tem bem poucos postos e pontos de parada nessas megaestradas paulistas. Estranho isso, mas é assim em todas elas.
Passada a tempestade, restou uma chuva constante, mas fraca. E eu segui adiante. Minha meta era Queluz, uma cidadeca na Dutra, a 6 km da divisa com o RJ, onde tem um hotel de beira de estrada que eu conhecia. Barato e aceitável, é parte de um complexo Graal, com posto de gasolina e megalanchonete e restaurante. Garante assim um bom jantar e um bom café no outro dia, além de um precinho muito simpático para viajantes solo.
Pilotei mais de 200 km até chegar lá, já pelas 19:30. Foi um alívio finalmente chegar. Essa última parte do dia foi muito estressante por conta da chuva! Cheguei tão cansado que nem tive condições de fazer esse relato de viagem! Foram 817 km rodados e 12 horas na estrada.
Analisando depois, foi um bom dia de viagem. Superei os desafios, venci as adversidades. E da outra vez que tinha passado na Rastro estava chuviscando, não tinha dado para ver as paisagens. Desta vez teve trechos até com um solzinho, embora estivesse nubladão. A paisagem paranaense eu já sabia que era bela, mas descobri que a parte paulista também é. Vi florestas inteiras de Ipês roxos, muito legais!
Algumas fotos da Rastro da Serpente. As megaestradas não fotografei, não tem nada de interessante nelas.
Quando vi essa linda árvore florida, tive que parar para fotografar. Depois ela ficou comum para caramba!
Essa placa diz o que é a Rastro da Serpente. Difícil encontrar um trecho reto com mais de 300 metros. É curva e curva e curva.
As árvores floridas. Eu acho que são Ipês, será que são mesmo?
Florestas inteiras... deu uma boa foto, não é mesmo?
Parada em Apiaí/SP, na placa indicativa. Tinha outros três motociclistas ali, em motos grandes. Não quiseram muito papo. Uma pena, eu adoro papear com outros viajantes.
A placa que dá início à Rastro, em Capão Bonito. Fica em frente ao bar Porthal Rastro da Serpente. Creio que tenham sido eles mesmos os inventores do nome para a estrada.
Euzim feliz com o objetivo cumprido. Quase desisti no início, com a cara de chuva que tava. Mas persisti no planejado e valeu a pena!
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