domingo, 14 de julho de 2019

6a viagem Vitória a Porto Alegre - ida, dia 2

Por vezes é difícil explicar o que me encanta nas viagens de moto que faço. As pessoas acham muito estranho que eu escolho estradas menores, de interior, cheias de curvas, muito demoradas. Questionam por que eu acrescento quilômetros ao trajeto em vez de reduzir. "Você pode fazer só 2100 km se for por esse trajeto, por que vai por esse outro que tem 2500 km? Vai demorar mais ao invés de chegar logo!"

A explicação é que nas minhas viagens o destino é frequentemente pouco relevante. A minha viagem de moto não é sobre as paradas, é sobre o trajeto. Não são destinos que a comandam, são os percursos, as próprias estradas a serem percorridas. O que me encanta é a experiência do viajar, de estar sobre a moto sentindo a moto nas acelerações, frenagens e especialmente, nas curvas. A magia das paisagens desconhecidas que se descobre a cada curva, a cada cume de morro que se atinge. É a viagem em si o meu barato, e ela acontece tanto fora quanto dentro. Me perco dentro de mim ao mesmo tempo que me encontro nos caminhos a trilhar.

Plano de viagem:

A proposta para o 2o dia foi ir de Barra Mansa a Pedreira (SP). Seriam apenas 485 km passando pela Serra de Itatiaia, por estradas do interior de MG e pela estrada de Morungaba em São Paulo (SP-360). A cidade de Pedreira foi escolhida como ponto de parada para eu poder conhecer pessoalmente um amigo que vem fazendo o grande favor de legendar os vídeos do canal Rods na Garagem em espanhol - o ítalo-venezuelano Paolo Gera.


Relato da viagem:


Que delícia de trajeto, gente! Foi tanta curva que acho que vi a luz de freio da moto! 😂

O dia começou decepcionante, com um chuvinha inesperada pouco depois da saída. Quando saí do hotel as ruas estavam molhadas, mas eu pensei que a chuva pudesse ter caído durante a noite e já ter passado. Saí sem as capas e peguei logo a Rodovia Presidente Dutra. A minha alegria não durou muito, pois a chuva não demorou a aparecer. Começou fraquinha, mas não muito adiante eu tive que parar em um bar na beira da estrada para vestir todas as capas. É sempre xarope vestir todos os plásticos e também dá um calor danado. Mas é bem melhor ter esse incômodo do que ficar todo molhado no meio da viagem. Eu nem sei como faria para secar as roupas de couro nos outros dias se efetivamente elas ficassem molhadas.

Viajando pelo chuvisco cheguei a pensar em seguir direto pelas rodovias Presidente Dutra e Dom Pedro I por serem um trajeto mais seguro. Estradas grandes, duplicadas e bem sinalizadas são sempre mais seguras para uma viagem molhada. Mas a chuva não era tão forte que ameaçasse a segurança e no trevo da BR-354 eu parei para tomar a decisão. Decidi seguir o roteiro planejado e tentar a sorte de abrir o tempo mais adiante. Deu certo e talvez tenha sido a melhor decisão de toda a viagem. A BR-354, que vai de Engenheiro Passos (RJ) até Itamonte (MG), é fenomenal. É aquela combinação perfeita - muitas curvas em meio a uma paisagem linda de mata! Mesmo rodando parte dela sob a chuva valeu demais a pena. Certamente vou voltar nessa estrada em alguma outra viagem.

De Itamonte a São Lourenço, e desta a Paraisópolis, as estradas também estavam muito boas. Rodovias de pista simples, com bem pouco tráfego e com aquele visual do interior do Brasil. Uma comunidadezinha aqui e ali, fazendas e belos vales se descortinavam pelo caminho. E tome curva para todo lado!

Teve chance até para uma gracinha do Google Maps. Depois da parada para abastecimento e almoço em Paraisópolis o trajeto seguia por Consolação em direção à Rodovia Fernão Dias. Subitamente o asfalto acabou e eu me deparei com um trecho de 16 km de estrada de terra totalmente inesperado. O que acontece é que o Google Maps não diferencia estradas de terra das asfaltadas nas rotas, o que me fez cair nessa fria. Usualmente evito estradas de terra porque a minha moto não é a mais apropriada para esse tipo de piso e eu não domino a técnica de pilotagem off-road. Para piorar essa era uma estradinha hardcore, super trepidante e com subidas e descidas difíceis. Mas... já que eu estava lá, o jeito foi enfrentar. Segui com cuidado e atravessei os 16 km sem problemas. Acabou sendo um belo teste para o suporte de celular que eu temia que quebrasse. Ele resistiu super bem eu não precisei mais me preocupar com isso.

Depois desse trecho de terra vieram duas mega estradonas, Rodovias Fernão Dias e Dom Pedro I, para dar um refresco no sacolejo. Estradonas duplicadas, por vezes com 3 faixas em cada sentido, super tranquilas. A Fernão até tem umas curvas legais, bem gostosas. A Dom Pedro I é mais retificada. Mantive meus 110 km/h direto nelas até chegar no filezinho programado para o fim do percurso do dia - a estrada de Morungaba!


Eu já tinha ouvido o pessoal das motos speed de São Paulo falarem muito dessa estradinha e também já tinha visto vídeos no Youtube deles mandando ver nas curvas. Mas agora, depois de rodar nela, entendo bem o porquê da fama. A estrada é um motódromo! Cada curva é mais fenomenal que a anterior! Eu, como não conhecia a estrada, fiz todas as curvas em velocidade bem prudente, mas mesmo assim me diverti muito!

Terminei o dia na pequena cidade de Pedreira e pude encontrar o meu amigo Paolo Gera. Saímos para jantar e comemorar o aniversário da esposa dele e eu pude curtir um monte das suas histórias. Ducatis, Kawasakis e muitas viagens da Venezuela ao Brasil e vice-versa em um tempo em que GPS e celular não eram nem sonhados! O tempo foi pouco para muito papo!

Mais detalhes no vídeo:

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