domingo, 14 de julho de 2019

6a viagem Vitória a Porto Alegre - ida, dia 4

Plano de viagem
De Balneário Camboriú a Porto Alegre, 660 km, passando pela subida da BR-282, SC-110 e Serra do Rio do Rastro.




Relato do dia:

Foi mais um excelente dia de pilotagem. O tempo esteve ótimo em todo o trecho. No odômetro foram 670 km percorridos em 10h, já contando as paradas. Eu consegui cumprir o roteiro planejado integralmente.

Saí um pouco mais tarde do que queria de Balneário Camboriú porque o café do hotel só abria às 7h. Sair sem o café é crime federal no meu código de conduta, pois o café da manhã é minha refeição favorita. Embora tenha valido a pena porque o café do hotel onde parei era monumental, acabei indo para a estrada por volta de 7:40 e perdi uma hora inteira de sol que me fez falta depois.

O roteiro do dia prometia 3 trechos deliciosos - subida da BR-282, SC-110 e Serra do Rio do Rastro. Mas confesso que no começo do dia cheguei a pensar em abreviar o roteiro para chegar logo a POA. É uma síndrome que ataca os viajantes próximo ao final das viagens, vontade de chegar logo... Então fui rodando na BR-101 até Florianópolis pensando se retirava a subida da BR-282 e a estrada de Urubici e apenas subia a Serra do Rio do Rastro. Chegando perto de Palhoça eu tomei tento e fiz como estava no roteiro. E tal como no 2o dia, seguir o planejado foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado!

A BR-282 é fabulosa! Eu lembrava dela como uma estrada muito gostosa, mas na verdade ela é melhor que isso. É gostosa de pilotar e linda de ver, toda margeada de pinheiros, araucárias e belos e amplos vales. Todo motociclista que curte fazer umas boas curvas deveria subir essa serra pelo menos uma vez! (Eu já subi três e ainda quero voltar).

Depois foi a vez da estrada de Urubici. Outro paraíso de curvas, só que mais fechadas e menos seguras, porque em pista simples e estreita. Parei no Pórtico de Urubici para fotos e vídeo e depois parei de novo no Posto Serra Azul para abastecer e fazer um lanche. Foi legal voltar a rever Urubici. Passei uns 5 ou 6 ótimos dias nela com minha família toda no início de 2018.

Depois de Urubici a estrada muda um pouco, as curvas ficam mais abertas e os horizontes mais amplos. É uma região bonita e legal de pilotar.

A parte do roteiro que acabou por decepcionar um pouco foi a fabulosa Serra do Rio do Rastro. Não por ela, que estava linda como sempre, mas porque tinha um Maracanã todo de gente lá. Carros, motos e gente por todo canto, aos montes. Assim a curtição ficou um pouco limitada, porque todo bom ponto para foto era lotado de gente e a minha descida foi meio que 'seguindo a procissão' atrás de uma fileira de carros. Colaborou também para essa impressão o fato de eu ter saído uma hora mais tarde e por isso não ter tempo de esperar minha vez nos locais de foto. Se demorasse muito chegaria em Porto Alegre somente à noite.

Desci a serra e lá embaixo foi só trajeto para casa. Algumas estradinhas ainda pelo interior catarinense até chegar na BR-101 e depois daí as velhas estradas conhecidas até em casa. Ainda parei na divisa de estado para tirar fotos e registrar um pequeno vídeo desse momento que é sempre emocionante para mim.

Me surpreendi com o volume de carros nas duas estradas gaúchas (BR-101 e BR-290). Volta de feriado, né? Muitos carros e muitas motos! Praticamente uma massa compacta se movendo a 100, 110 km/h. O bom é que mesmo com todo esse tráfego não teve engarrafamento.

Bom, no fim das contas deu tudo certo. Fui brindado com um belo por do sol na Freeway, já na chegada à Porto Alegre. Céu laranja do inverno gaúcho, sempre lindo. Cheguei em Porto Alegre às 17:45 com toda a segurança e muito satisfeito de toda a viagem!

Mais detalhes no vídeo:

6a viagem Vitória a Porto Alegre - ida, dia 3


Plano de viagem:

De Pedreira a Balneário Camboriú (SC), 745 km, passando pela Serra da Macaca, Régis Bittencourt e descida de Joinville.



Relato do 3o dia:

Este foi um dia foi de rodar bastante! Consegui fazer os quase 750 km do roteiro planejado em 11 horas, mas cheguei 20 minutos depois do pôr do sol. Como o trecho final era muito conhecido (BR 101 SC), não tinha dificuldade e eu não vi risco de seguir um pouco além do entardecer.

O dia começou com uma enorme dose de mega-estradas paulistas. A rede de estradas do interior paulista na região de Campinas é fenomenal, você vai de uma a outra sem passar por dentro de nenhuma cidade e sem sequer reduzir a velocidade. Só precisa ficar muito atento às placas ou ao GPS, porque é incrivelmente fácil perder um acesso e acabar na estrada errada.

Uma outra característica estranha desse sistema de mega-estradas é que tem muito poucos postos de abastecimento pelas estradas. São raros, muito raros mesmo. Fácil andar uma centena de quilômetros sem ver um deles. Creio que estejam todos dentro das cidades que a estrada evita.

Segui por essa estradeira toda debaixo de um belo sol, mas a temperatura insistia em não subir. O painel da moto mantendo 16 a 18 graus e eu esperando o sol me aquecer um pouco. Até um ponto que desisti de esperar. Parei no acostamento e vesti mais uma blusa para dar jeito no frio. É  engraçado e meio inexplicável por que a gente resiste a parar no meio das viagens para essas coisinhas simples. Eu vou levando até o máximo que der as paradinhas - banheiro, colocar roupas, colocar ou tirar capas... tudo é feito no limite do suportável.

A parte mais legal do dia foi atravessar novamente a Serra da Macaca (Parque Estadual Carlos Botelho). Essa estrada é uma das minhas preferidas. Parece ser bem antiga, a contar pelas datas que aparecem nas cabeceiras das várias pontes (1939, 1940, por aí). É uma estradinha de bloquetes que transita o tempo todo por meio da Mata Atlântica maravilhosamente preservada. Cheia de curvas bem fechadas! Não é estrada para pilotagem, é para curtição do visual. São apenas 33 km de prazer entre a mata.

Saindo do trecho do parque me surpreendi com o trecho da estrada que até Sete Barras. Na última vez que passei nesse trecho, em sentido contrário e com Marcelo pilotando, ele era a superfície da lua de tanto buraco. Mas dessa vez encontrei a estrada recapeada e perfeitinha! Aí deu pra curtir muito bem umas tantas curvinhas boas que tem lá!

Depois de Sete Barras voltei para o circuito de mega-estradonas. Rodovia Régis Bittencourt, Anel Viário de Curitiba e descida da BR-376. Todas estradonas duplicadas em que a gente só reduz velocidade nos radares - não por estar rápido, mas porque colocam radares de 60 ou 80 km/h em rodovia de 110 km/h. Essas estradonas são boas pra fazer quilometragem, mas para meu estilo de viagem são meio sem graça.

Ah, me surpreendeu a quantidade de motos grandes por todas as estradas. Passei por vários grupos grandes em sentido contrário no Anel de Curitiba e na BR-101 depois de Joinville. Também encontrei uns tantos viajantes solitários como eu ou em duplas. Vi muito mais motos que em qualquer das outras viagens que já fiz! A rapaziada aproveitou bem o feriado de Corpus Christi para rodar de moto!

Mais detalhes no vídeo:

6a viagem Vitória a Porto Alegre - ida, dia 2

Por vezes é difícil explicar o que me encanta nas viagens de moto que faço. As pessoas acham muito estranho que eu escolho estradas menores, de interior, cheias de curvas, muito demoradas. Questionam por que eu acrescento quilômetros ao trajeto em vez de reduzir. "Você pode fazer só 2100 km se for por esse trajeto, por que vai por esse outro que tem 2500 km? Vai demorar mais ao invés de chegar logo!"

A explicação é que nas minhas viagens o destino é frequentemente pouco relevante. A minha viagem de moto não é sobre as paradas, é sobre o trajeto. Não são destinos que a comandam, são os percursos, as próprias estradas a serem percorridas. O que me encanta é a experiência do viajar, de estar sobre a moto sentindo a moto nas acelerações, frenagens e especialmente, nas curvas. A magia das paisagens desconhecidas que se descobre a cada curva, a cada cume de morro que se atinge. É a viagem em si o meu barato, e ela acontece tanto fora quanto dentro. Me perco dentro de mim ao mesmo tempo que me encontro nos caminhos a trilhar.

Plano de viagem:

A proposta para o 2o dia foi ir de Barra Mansa a Pedreira (SP). Seriam apenas 485 km passando pela Serra de Itatiaia, por estradas do interior de MG e pela estrada de Morungaba em São Paulo (SP-360). A cidade de Pedreira foi escolhida como ponto de parada para eu poder conhecer pessoalmente um amigo que vem fazendo o grande favor de legendar os vídeos do canal Rods na Garagem em espanhol - o ítalo-venezuelano Paolo Gera.


Relato da viagem:


Que delícia de trajeto, gente! Foi tanta curva que acho que vi a luz de freio da moto! 😂

O dia começou decepcionante, com um chuvinha inesperada pouco depois da saída. Quando saí do hotel as ruas estavam molhadas, mas eu pensei que a chuva pudesse ter caído durante a noite e já ter passado. Saí sem as capas e peguei logo a Rodovia Presidente Dutra. A minha alegria não durou muito, pois a chuva não demorou a aparecer. Começou fraquinha, mas não muito adiante eu tive que parar em um bar na beira da estrada para vestir todas as capas. É sempre xarope vestir todos os plásticos e também dá um calor danado. Mas é bem melhor ter esse incômodo do que ficar todo molhado no meio da viagem. Eu nem sei como faria para secar as roupas de couro nos outros dias se efetivamente elas ficassem molhadas.

Viajando pelo chuvisco cheguei a pensar em seguir direto pelas rodovias Presidente Dutra e Dom Pedro I por serem um trajeto mais seguro. Estradas grandes, duplicadas e bem sinalizadas são sempre mais seguras para uma viagem molhada. Mas a chuva não era tão forte que ameaçasse a segurança e no trevo da BR-354 eu parei para tomar a decisão. Decidi seguir o roteiro planejado e tentar a sorte de abrir o tempo mais adiante. Deu certo e talvez tenha sido a melhor decisão de toda a viagem. A BR-354, que vai de Engenheiro Passos (RJ) até Itamonte (MG), é fenomenal. É aquela combinação perfeita - muitas curvas em meio a uma paisagem linda de mata! Mesmo rodando parte dela sob a chuva valeu demais a pena. Certamente vou voltar nessa estrada em alguma outra viagem.

De Itamonte a São Lourenço, e desta a Paraisópolis, as estradas também estavam muito boas. Rodovias de pista simples, com bem pouco tráfego e com aquele visual do interior do Brasil. Uma comunidadezinha aqui e ali, fazendas e belos vales se descortinavam pelo caminho. E tome curva para todo lado!

Teve chance até para uma gracinha do Google Maps. Depois da parada para abastecimento e almoço em Paraisópolis o trajeto seguia por Consolação em direção à Rodovia Fernão Dias. Subitamente o asfalto acabou e eu me deparei com um trecho de 16 km de estrada de terra totalmente inesperado. O que acontece é que o Google Maps não diferencia estradas de terra das asfaltadas nas rotas, o que me fez cair nessa fria. Usualmente evito estradas de terra porque a minha moto não é a mais apropriada para esse tipo de piso e eu não domino a técnica de pilotagem off-road. Para piorar essa era uma estradinha hardcore, super trepidante e com subidas e descidas difíceis. Mas... já que eu estava lá, o jeito foi enfrentar. Segui com cuidado e atravessei os 16 km sem problemas. Acabou sendo um belo teste para o suporte de celular que eu temia que quebrasse. Ele resistiu super bem eu não precisei mais me preocupar com isso.

Depois desse trecho de terra vieram duas mega estradonas, Rodovias Fernão Dias e Dom Pedro I, para dar um refresco no sacolejo. Estradonas duplicadas, por vezes com 3 faixas em cada sentido, super tranquilas. A Fernão até tem umas curvas legais, bem gostosas. A Dom Pedro I é mais retificada. Mantive meus 110 km/h direto nelas até chegar no filezinho programado para o fim do percurso do dia - a estrada de Morungaba!


Eu já tinha ouvido o pessoal das motos speed de São Paulo falarem muito dessa estradinha e também já tinha visto vídeos no Youtube deles mandando ver nas curvas. Mas agora, depois de rodar nela, entendo bem o porquê da fama. A estrada é um motódromo! Cada curva é mais fenomenal que a anterior! Eu, como não conhecia a estrada, fiz todas as curvas em velocidade bem prudente, mas mesmo assim me diverti muito!

Terminei o dia na pequena cidade de Pedreira e pude encontrar o meu amigo Paolo Gera. Saímos para jantar e comemorar o aniversário da esposa dele e eu pude curtir um monte das suas histórias. Ducatis, Kawasakis e muitas viagens da Venezuela ao Brasil e vice-versa em um tempo em que GPS e celular não eram nem sonhados! O tempo foi pouco para muito papo!

Mais detalhes no vídeo:

6a viagem Vitória a Porto Alegre - ida, dia 1

Plano de viagem:

Planejei a ida para ser feita em quatro dias, e o retorno um pouco mais direto, em três. Como sempre enchi o trajeto de estradinhas de interior e serras. Parece não restar mais muitas estradas entre Vitória e Porto Alegre que eu não tenha passado, mas ainda dei jeito de colocar algumas desconhecidas no trajeto no 2o dia da ida. Nos outros dias repeti uma porção de estradas que eu gosto muito.

Trecho para o 1o dia de viagem:

De Vitória a Barra Mansa (RJ) pela Rodosol e BR-393 - 600 km



Relato do 1o dia

O primeiro dia de viagem tem sempre uma aura especial. Mais do que qualquer outro dia, ele representa a vitória sobre os medos que todos temos do desconhecido, do inesperado, daquilo que pode acontecer mas não se quer que aconteça. Quando a gente cruza o portão de casa com a moto, se lança no mundo e descobre em si uma força que no dia a dia nem sabe ter! Mesmo com toda a experiência que eu já tenho com viagens longas de moto, e em especial com viagens de Vitória a Porto Alegre, ainda me emociono nas partidas.

Saí bem cedo, por volta de 6:30, e peguei a Rodosol no ES até onde não podia mais - Marataízes. Pelo caminho passei por algumas das mais belas praias capixabas, como Meaípe, Anchieta e Piúma, mas sem parar. Em algumas delas as pessoas estavam fazendo tapetes de Corpus Christi pelas ruas e eu passei bem devagar para ver um pouco. Em Marataízes peguei a estrada em direção à BR-101, e depois de um pequeno trecho nesta enveredei para o interior do Rio de Janeiro. Cruzei a primeira divisa de estado entre Ponte do Itabapoana e Santo Eduardo, dois povoadinhos no meio do nada e depois percorri a BR-393 inteira, passando por Santo Antônio de Pádua, Além Paraíba, Três Rios e Vassouras, até desembocar em Volta Redonda e Barra Mansa.

O tempo esteve ótimo em todo o trajeto, a moto rodando perfeita, as estradas vazias, e não tive nenhum problema o dia todo. Só o mais puro prazer da pilotagem! Como foi o primeiro dia de estrada me atrapalhei um pouco com as traquitanas eletrônicas - câmera, celular com GPS, carregador no guidon. Tinha que pegar o jeito de ligar e desligar a câmera andando, sem parar a moto, e usando apenas uma das mãos. Também precisei ficar cuidando do carregamento da bateria do celular, porque algum problema na tomada de 12V da moto fazia o carregamento parar, e aí o Google Maps consumia a bateria com uma velocidade inesperada. Por uma ou duas vezes o celular, já velhinho e com bateria cansada, apagou sozinho. Aí eu precisava parar no acostamento para ligar novamente e carregar o mapa.

Ao contrário de tantas outras vezes, desta vez a parada na Lanchonete Trevo estava bem concorrida. Nunca tinha visto essa lanchonete tão cheia! Saída de feriado de Corpus Christi explica isso. Tinha até uma linda Lamborghini no estacionamento. Deve ser divertido viajar num brinquedo desses!

Outro ponto curioso deste dia foi a parada em Barra Mansa. A cidade toda fica na beira da linha de trem que abastece a Companhia Siderúrgica Nacional. Parei para abastecer ao chegar e me surpreendi com um daqueles enormes trens de 200 vagões passando e buzinando. É um trem exatamente igual aos trens da linha da Vale de Vitória a Minas, mas em Barra Mansa eles passam bem dentro da cidade, bem ao lado da gente. Depois de instalado no hotel fui fazer um lanche em um trailer e atrás dele havia um pátio de manobra das locomotivas. Durante todo o lanche aquele imenso monstro a diesel ficou gorgolejando em baixa rotação e a rua toda vibrava junto. Achei que teria uma noite complicada, já que meu hotel ficava a apenas um quarteirão da linha, mas o barulho dos trens não chegava nele, ainda bem.

Mais detalhes no vídeo.